Fracasso: leilão do Lote 6 das rodovias do Paraná tem só uma empresa interessada
Após Ministro Renan Filho afirmar que havia quatro empresas estudando o Lote 6, apenas uma demonstrou interesse e fez oferta
Por Da Redação
O lote “mais importante” e “mais desafiador” das rodovias paranaenses, tem apenas uma empresa interessada. Trata-se do Lote 6, que será leiloado na próxima quinta-feira (19), na Bolsa de Valores de São Paulo. A única empresa que deu lance e vai arrematar o leilão é a EPR, que participou até o momento de todos os certames envolvendo as rodovias do estado e é administradora do Lote 2.
A situação pode ser vista como um fracasso, tanto do governo do Paraná, como para a Agência Nacional de Transportes Terrestres e para o Ministério dos Transportes, que aguardavam e prometiam uma grande concorrência envolvendo o lote, que talvez seja o mais rentável em todo os seis que são leiloados.
Na prática, sem a presença de um segundo interessado, o Ministério dos Transportes abrirá o envelope na próxima quinta-feira (19) para verificar documentos como a garantia da proposta e o percentual de deságio oferecido pela EPR. Caso as informações sejam confirmadas, a empresa será declarada vencedora do leilão.
Durante a coletiva de imprensa do leilão do Lote 3, realizado na última quinta-feira, o Ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que o Lote 6 teria ao menos quatro empresas interessadas em participar da disputa, mas não citou nomes.
“O Lote 6 é o maior lote em investimento de todo o pipeline de projetos. Então temos certeza e convicção de que teremos concorrentes, mas ainda não sabemos quantos. Tem quatro grupos estudando. Isso depende do que aconteceu hoje (quinta-feira), se o grupo que ganhou hoje vai querer ganhar o próximo. Isso tudo influencia no próximo leilão. Mas fato é que o leilão terá um vitorioso no dia 19. Isso será muito bom para o Paraná, porque em dois anos, teremos feito com tarifa justa, muita obra e agilidade, quatro leilões que impulsionarão o investimento no estado”, explicou Renan Filho.
Mas ao que tudo indica, das quatro interessadas, apenas uma resolveu seguir e assumir a “bronca” do Lote 6, que como dito pelo ministro, é o que deve receber o maior investimento em todo o Brasil. Isso, com toda certeza, por conta da necessidade de duplicação quase que integral, do maior corredor rodoviário do Paraná: A BR-277. O trecho que engloba o Lote 6 está duplicado apenas de Foz do Iguaçu até Matelândia e em pequenos trechos urbanos em Cascavel, Guarapuava entre outras cidades. Ao todo, o Lote 6 deve ter 444 km de duplicações. E é justamente a BR-277 que recebe todo o escoamento do agronegócio da região mais pujante do estado. Com o grande volume de transportes de carga, é necessária a duplicação.
“Esse Lote 6 pega uma região que é talvez uma das que vem mais crescendo no Paraná devido as cooperativas. Ali é a maior concentração de cooperativas agrícola do estado, que vão fechar esse ano com o faturamento de mais de R$ 200 bilhões. E ela tem uma conexão com o Mato Grosso do Sul, que é um grande produtor de alimentos e que usa o Porto Paranaguá como seu caminho de saída da produção, além da conexão com o Paraguai, que também tem um mercado muito forte no transporte de grãos. O Paraguai tem voltado a usar o Porto de Paranaguá, após quase 10 anos por conta de brigas políticas do passado. Então ali é um corredor de desenvolvimento muito grande, e possivelmente que for o ganhador, vai ser muito feliz com essa concessão e acima de tudo, dar a oportunidade de fazer uma infraestrutura mais moderna para essa região que vem crescendo”, afirmou Ratinho Jr. em entrevista após o leilão do Lote 3.
Dejavú?
A situação do Lote 6 é semelhante ao do Lote 2, que também foi considerado como “crucial” pelo governo do estado. Nele, apenas a mesma EPR demonstrou interesse, e arrematou o leilão realizado em setembro de 2023. O desconto foi mínimo: 0,08% em relação a tarifa base. Muito menor que os 26,60% de desconto que a CCR ofereceu no Lote anterior. A expectativa é que esse desconto irrisório seja novamente dado no Lote 6, garantindo tarifas altas para os moradores da região oeste.
A sessão na época, foi constrangedora, com a leitura do desconto quase inexistente, deixando um clima de “enterro” durante as falas das autoridades presentes na B3. Frases desconexas e um certo espanto com o fato, marcaram os pronunciamentos. Houve até mesmo pronunciamento falando que o pequeno desconto foi bom, pois mostra que o projeto foi bem feito.
“Foi uma árdua luta para que se chegasse hoje neste momento. Esse leilão, que o desconto é pequeno, para mim é muito gratificante porque o projeto foi bem realizado. Quando você tem um desconto muito grande, você fica em dúvida se o projeto foi feito bem ou não. Quando você tem um desconto palatável, é muito gratificante. Está bem entregue”, disse na ocasião, Jorge Bastos, presidente da Infra S.A – empresa vinculada ao Ministério dos Transportes.
Antecipação
A antecipação do Lote 6 em relação ao 4 e 5, mostra que o lote é preferencial para os governos Federal e do Paraná. Os primeiros dois lotes “cercam” a capital Curitiba e dão acesso ao litoral, enquanto os Lotes 3, leiloado na semana passada e o 6, ligam importantes regiões produtivas ao Porto de Paranaguá. Ou seja, a prioridade máxima é o escoamento da produção. E talvez por isso, os lotes 4 e 5, considerados menos importantes, foram deixados de lado em meio a necessidade de dar um “corredor novo” para o setor produtivo do oeste e sudoeste do estado. A inserção do Lote 6 como prioritário, foi inclusive uma solicitação do governo do Paraná.
O lote 6 é o mais longo de todas as concessões rodoviárias do estado, com 646,33, cortando as cidades de Foz do Iguaçu, Cascavel, Guarapuava, Francisco Beltrão e Pato Branco, importantes municípios no estado. As rodovias contempladas serão as BRs 163 e 277, além das PRs 158, 180,182, 280 e 483.
Caso todas as obras sejam realizadas, inclusive dos lotes 1 e 2, o corredor da BR-277 fica inteiramente duplicado, reduzindo muito a demora na ligação entre o Oeste e o litoral e também reduzindo o número de acidentes na famosa “rodovia da morte”.
Em relação as praças de pedágio, são previstas nove em todo o lote. Seis delas na BR-277: Prudentópolis, Candói, Laranjeiras do Sul, Cascavel, Céu Azul e São Miguel do Iguaçu. A BR-163 também deve receber uma praça de pedágio no Km 157 em Lindoeste. Já nas rodovias estaduais, são previstas praças na PR-280 em Pato Branco e PR-182 em Ampére.
Os investimentos devem chegar a R$ 20 bilhões, sendo R$ 12,6 bilhões em grandes obras (Capex) e R$ 7,4 bilhões em manutenção (Opex).
Sudoeste
Para além da 277, o Lote 6 tem outra grande bronca: a BR-163. Abandonada pela antiga construtora que realizava a duplicação, a rodovia ainda tem muitos problemas a serem resolvidos pela Concessionária que vai assumir a concessão. Ao todo, será necessária a duplicação de 141,08 quilômetros das rodovias BR-163, PR-182, PR-483, PR-180, PRC-280 e PRC-158, entre Cascavel, na região Oeste, e Pato Branco, no Sudoeste.