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Defesa de Youssef pede ao STF anulação de todas as condenações da Lava Jato

Doleiro alega parcialidade de Sergio Moro e uso de grampos ilegais em processo que agora está sob relatoria de Dias Toffoli

Por Da Redação

Defesa de Youssef pede ao STF anulação de todas as condenações da Lava Jato Créditos: Agência Brasil

A força-tarefa da Lava Jato voltou ao centro das atenções do Judiciário brasileiro. A defesa do doleiro Alberto Youssef, um dos primeiros presos e delatores do escândalo que sacudiu a política nacional a partir de 2014, protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido para anular todas as condenações proferidas contra ele no âmbito da operação. O argumento central é a suposta parcialidade do então juiz Sergio Moro, apontado como agente de “interesses políticos e pessoais” durante o processo.

A ofensiva jurídica ocorre em um momento de desmonte institucional da Lava Jato, simbolizado pelo afastamento do juiz Danilo Pereira Júnior, da 13ª Vara Federal de Curitiba. O magistrado alegou motivo de foro íntimo para deixar todos os processos relacionados à operação, decisão publicada na terça-feira (24). Com isso, os casos envolvendo Youssef passam agora às mãos do juiz substituto Guilherme Roman Borges.

A defesa do doleiro sustenta que a atuação de Moro nos processos violou o devido processo legal. “Requer-se o reconhecimento da suspeição do então juiz federal Sérgio Fernando Moro na condução dos procedimentos investigativos e ações penais que tramitaram na 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba/PR nos quais o requerente constou como investigado/réu”, diz trecho da petição. Segundo os advogados, a partir dessa constatação, “deve ser decretada a nulidade ab initio de todos os atos processuais levados a cabo nesses feitos”.

Além da alegação de parcialidade, a defesa volta a citar o episódio dos grampos ilegais instalados na cela de Youssef na sede da Polícia Federal, em Curitiba, durante sua prisão. Na avaliação dos advogados, esse ponto se torna ainda mais grave à luz das revelações da Operação Spoofing, que expôs conversas privadas entre integrantes da força-tarefa da Lava Jato e o ex-juiz Moro. As mensagens, obtidas por hackers e reveladas à imprensa, indicariam um alinhamento indevido entre acusação e julgador.

“O grampo ilegal instalado na cela de Alberto Youssef — já reconhecido neste feito — deve ser interpretado à luz das mensagens reveladas na Operação Spoofing, que evidenciaram conluio entre o ex-juiz Sergio Moro e membros do Ministério Público Federal”, reforça o pedido apresentado ao STF.

Youssef foi preso em março de 2014, ainda no início da operação. Considerado peça-chave para as investigações, ele firmou acordo de colaboração premiada e passou à prisão domiciliar no fim de 2016. No ano seguinte, foi para o regime aberto. Seu acordo de delação foi responsável por impulsionar uma série de investigações e prisões, especialmente de figuras ligadas aos governos do PT, como os ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Guido Mantega.

Agora, a defesa tenta anular suas sentenças sem atingir o acordo de delação, que permanece válido. “Importante frisar que o presente requerimento não impugna a decisão de homologação de colaboração proferida por este Supremo Tribunal Federal, limitando-se a buscar a declaração de nulidade das sentenças condenatórias proferidas pelo ex-juiz Moro”, explicam os advogados.

O pedido foi distribuído ao ministro Dias Toffoli, que já anulou recentemente decisões da Lava Jato com base na mesma argumentação de conluio entre Moro e a força-tarefa. Em decisões anteriores, Toffoli reconheceu a parcialidade do ex-juiz e apontou ilegalidades na condução dos processos, o que fortalece a estratégia da defesa de Youssef.

Caso Nelson Freitas reforça cenário de anulações

O novo pedido da defesa de Youssef foi apresentado poucos dias após o STF anular, por decisão de Toffoli, todos os processos relacionados ao ex-vice-presidente dos Correios, Nelson Luiz Oliveira de Freitas. O ex-dirigente havia sido preso em 2016, durante a 18ª fase da Lava Jato, batizada de “Pixuleco II”, sob acusação de participar de um esquema de desvio de mais de R$ 100 milhões em contratos de crédito consignado.

Na decisão, o ministro afirmou que houve conluio entre Sergio Moro e membros do Ministério Público Federal na condução das ações. Segundo Toffoli, houve “prévio acerto entre acusação e magistrado para deflagração de operações policiais que tinham como alvos o ora requerente”. O caso de Freitas foi mais um de uma série de sentenças anuladas, evidenciando o avanço da ofensiva jurídica contra os alicerces da Lava Jato.

Danilo Pereira deixa casos da Lava Jato

Em meio à movimentação nos tribunais superiores, o juiz Danilo Pereira Júnior, que atuava na 13ª Vara Federal de Curitiba e herdara parte dos processos da Lava Jato, decidiu se afastar de todos os casos ligados à operação. Alegando foro íntimo, o magistrado devolveu as ações à vara de origem e deve reassumir funções administrativas no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), para onde havia sido convocado no ano passado.

O afastamento gerou repercussões no meio jurídico e político, sendo interpretado como mais um indicativo de que a era da Lava Jato caminha para seu encerramento definitivo. Danilo havia assumido protagonismo após o afastamento de Sergio Moro da magistratura e vinha sendo o responsável por dar continuidade a julgamentos remanescentes da operação.

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