Defasagem salarial faz candidatos desistirem da carreira na Polícia Penal do Paraná
Aprovados em concurso abandonam curso de formação após comparar remuneração com outras forças de segurança; sindicato alerta para fuga de talentos e falta de isonomia

A discrepância salarial da Polícia Penal do Paraná (PPPR) tem levado candidatos aprovados em concurso a abandonar a carreira ainda durante o curso de formação. Relatos enviados ao Sindicato dos Policiais Penais do Paraná (Sindarspen) revelam frustração com a desvalorização da categoria e apontam a desigualdade de subsídios como principal motivo para a desistência. "Ao comparar os vencimentos iniciais da PPPR com os da Polícia Militar e da Polícia Civil, a diferença é gritante. Isso faz com que muitos policiais penais, até mesmo antes de assumir o cargo, migrem para outras instituições em busca de melhores condições", desabafa uma aprovada no concurso de 2024, que preferiu não se identificar.
A candidata relata que, durante a formação, vários colegas desistiram após serem aprovados em concursos de outras corporações. "Houve casos de pedidos de baixa no meio do curso porque conseguiram vagas em polícias com salários mais atrativos ou optaram por permanecer em suas instituições de origem", conta.
Outra candidata, que também não quis ter o nome divulgado, destacou a necessidade de equiparação salarial para fortalecer a segurança pública. "A valorização da Polícia Penal é essencial não apenas para o sistema prisional, mas para toda a sociedade. Sem atrativos, perdemos profissionais qualificados antes mesmo de eles ingressarem na carreira", afirmou.
Segundo divulgado pelo sindicato, a diferença nos vencimentos é significativa: enquanto um policial militar inicia com R$ 6.101,87, o subsídio inicial da PPPR é de R$ 4.548,97 – quase 25% menor. Além disso, os concursos para a Polícia Penal são raros: os últimos foram realizados em 2004, 2013 e 2024, com intervalos de cerca de uma década entre cada seleção.
Sindicato pressiona por isonomia
O Sindarspen alerta que a defasagem salarial, somada à lentidão na realização de concursos, prejudica a renovação de efetivos e desestimula novos talentos. "Como manter profissionais motivados se o Estado não oferece condições equiparadas às de outras polícias?", questiona a entidade.
Enquanto não houver equiparação, a tendência é que a PPPR continue perdendo candidatos para instituições mais valorizadas – um êxodo que pode comprometer a eficiência do sistema prisional e, por consequência, a segurança pública no Paraná.
Concurso visto como "escada"
O policial destacou que a falta de isonomia com outras forças de segurança faz com que muitos candidatos encarem o concurso da PPPR apenas como uma porta de entrada para carreiras mais valorizadas. "Hoje, o concurso da Polícia Penal do Paraná é visto como uma 'escada' por causa da escala de trabalho atrativa, mas a remuneração não se equipara à de outras polícias ou mesmo à de outros estados", explicou.
Ele mesmo exemplifica a disparidade: "Na minha instituição, o salário inicial é de R$ 5.332,64, mais auxílio-fardamento de R$ 8.532,24 ao ano e auxílio-alimentação diário de R$ 50,00. No total, a remuneração bruta inicial ultrapassa R$ 6.133,64, além dos benefícios"*.
Nota
Em resposta às críticas sobre desistências no concurso da Polícia Penal do Paraná (PPPR), a instituição esclareceu que o processo seletivo – que registrou 24.938 inscritos e nota de corte elevada – atraiu candidatos altamente qualificados, muitos dos quais já aguardavam convocações em outras seleções públicas.
Segundo a PPPR, a taxa de desistência durante o curso de formação foi de apenas 4%, percentual considerado normal para concursos de grande porte. Parte dessas saídas ocorreu devido a nomeações em outros certames (estaduais ou federais) ou a decisões pessoais por seguir carreiras fora da área policial.
A nota ressalta que, além do salário inicial, é preciso avaliar o plano de cargos e salários como um todo, incluindo tempo para promoções, progressão funcional e remuneração ao longo da carreira. Nesse aspecto, a PPPR afirma que o Paraná possui um dos melhores e mais consistentes planos de carreira do país.
Sobre a valorização da categoria, a Polícia Penal destaca que o Governo do Estado tem atuado continuamente para fortalecer a instituição, com estudos e propostas de atualização no plano remuneratório, visando melhorias progressivas e sustentáveis para os servidores.
A PPPR reforça que todas as informações sobre remuneração e condições do cargo foram divulgadas com transparência no edital. O alto número de inscritos, segundo a instituição, reflete a confiança na carreira e o reconhecimento de sua estabilidade e oportunidades de crescimento.
Créditos: Da redação