O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (7) que os conflitos armados, como a guerra na Ucrânia, interromperam o avanço na redução das emissões de gases de efeito estufa e podem levar o planeta a um colapso ambiental. A declaração foi feita durante a Cúpula do Clima, em Belém (PA), evento preparatório para a COP30, que será realizada na próxima semana.

“O conflito na Ucrânia reverteu anos de esforços para reduzir emissões e levou à reabertura de minas de carvão. Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático”, afirmou Lula na abertura da sessão sobre transição energética.

O encontro reuniu líderes internacionais, entre eles o secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente da Espanha, Pedro Sánchez, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. A cúpula teve como objetivo reforçar os compromissos multilaterais de combate à crise climática.

Transição justa

Lula destacou que, apesar dos avanços na transição energética, bilhões de pessoas ainda vivem sem acesso a serviços básicos.

“Dois bilhões de pessoas não têm combustíveis adequados para cozinhar, 660 milhões dependem de lamparinas e geradores a diesel, e 200 milhões de crianças estudam em escolas sem luz elétrica”, disse.

O presidente afirmou que sem energia não há saúde, educação nem agricultura moderna, e criticou o sistema financeiro global por continuar financiando o setor de petróleo.

“Em 2023, os 65 maiores bancos do mundo destinaram US$ 869 bilhões a petróleo e gás. Desde o Acordo de Paris, os combustíveis fósseis caíram apenas de 83% para 80% da matriz global”, observou.

Fundo com lucros do petróleo

Lula anunciou a criação de um fundo nacional para investir em energia renovável, financiado com parte dos lucros da exploração de petróleo e gás. Segundo ele, o objetivo é garantir uma transição energética justa e fortalecer a justiça climática.

“Direcionar parte dos lucros com a exploração de petróleo para a transição energética é um caminho válido. O Brasil criará um fundo para financiar o enfrentamento das mudanças climáticas”, afirmou.

O presidente também defendeu a adoção de mecanismos de troca de dívidas por investimentos ambientais, apontando a injustiça das dívidas externas impagáveis que dificultam o avanço dos países em desenvolvimento.

Chamado global

Encerrando o discurso, Lula cobrou o cumprimento dos compromissos da COP28, realizada em Dubai, que prevê triplicar a energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030. Ele pediu que o combate à pobreza energética seja incluído nas metas climáticas de todos os países.

“Os cientistas já cumpriram seu papel. Agora cabe a nós, líderes, decidir se o século 21 será lembrado como o século da catástrofe climática ou da reconstrução inteligente”, concluiu.

A Cúpula do Clima de Belém se encerrou ontem, com o compromisso de ampliar a cooperação internacional e preparar o terreno para a COP30, que ocorrerá entre 10 e 21 de novembro.