As três músicas de Ney Matogrosso proibidas pela ditadura militar

Canções vetadas em 1974 escancaravam críticas políticas e sociais durante a repressão

Por Gazeta do Paraná

As três músicas de Ney Matogrosso proibidas pela ditadura militar

Durante os anos 1970, em pleno regime militar, Ney Matogrosso enfrentou a censura prévia que atingia artistas brasileiros. No segundo disco do grupo Secos & Molhados, lançado em 1974, três músicas foram barradas pelo Departamento de Censura, órgão responsável por controlar o conteúdo cultural no país.

As informações estão na biografia "Ney Matogrosso", escrita por Julio Maria e publicada pela Companhia das Letras. Segundo o livro, a primeira música vetada foi "Tristeza Militar", com letra de João Ricardo. A composição abordava de forma direta o momento político. “Não há mais hora H / Ou medo de gritar / Tristeza Militar”, dizia o trecho que incomodou os censores.

A segunda foi "Tem Gente com Fome", poema musicado de Solano Trindade. O autor era ativista do movimento negro, criador do Centro de Cultura Afro-Brasileira e do Teatro Experimental Negro. Considerado subversivo, Trindade já vivia sob vigilância da ditadura, e seu nome bastava para causar veto.

A terceira canção vetada foi uma adaptação do poema "Vou-me Embora pra Pasárgada", de Manuel Bandeira. O trecho “Tem alcaloide à vontade” foi interpretado como apologia ao uso de drogas e resultou na proibição da música "Pasárgada", ainda que o mesmo poema tenha sido autorizado, naquele mesmo ano, em uma peça de teatro.

A biografia aponta que a subjetividade dos censores influenciava diretamente na aprovação ou rejeição de obras culturais. A peça teatral mencionada, chamada Uni-Verso, só teve uma cena cortada: “Não permitimos o beijo boca a boca”, anotou um dos agentes durante a avaliação da montagem.

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