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Após cobrar faltas na CCJ, Ana Júlia é alvo de ataques misóginos na Alep

Deputada Ana Júlia (PT) reage a declarações de Ricardo Arruda e denuncia violência política de gênero na Alep

Por Gabriel Porta Martins

Após cobrar faltas na CCJ, Ana Júlia é alvo de ataques misóginos na Alep Créditos: Montagem/GP/Assessorias

A deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT) denunciou ter sido alvo de ataques de cunho misógino por parte do deputado Ricardo Arruda (PL), após apresentar um requerimento solicitando sua substituição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Paraná. O pedido se baseou no número elevado de ausências do parlamentar nas reuniões do colegiado, conforme determina o regimento interno da Alep, no artigo 78, que trata da composição e funcionamento das comissões permanentes.

A iniciativa de Ana Júlia desencadeou um intenso debate durante a sessão plenária da última segunda-feira (7). Ricardo Arruda utilizou seu tempo no pequeno expediente para rebater a colega e chegou a questionar publicamente até mesmo a maneira como a parlamentar se veste. A reação de Ana Júlia foi firme: ela classificou as declarações do deputado como violência política de gênero.

“Ela protocolou o requerimento dizendo que eu faltei quatro sessões da CCJ e que deveria perder a vaga. Mas falou sem conhecimento. Parece que ainda pensa que está no Diretório Acadêmico da universidade, pelo jeito como se comporta e se expressa. Isso é perseguição política contra um deputado conservador. Já respondemos formalmente ao pedido e o assunto será resolvido”, disse Arruda.

De acordo com Ana Júlia, a CCJ se reuniu sete vezes neste ano, e Arruda compareceu a apenas duas dessas sessões. “A participação ativa é essencial para o bom andamento dos trabalhos legislativos. Ausências constantes comprometem não só a eficiência da comissão, mas também sua representatividade. Precisamos de compromisso com a função parlamentar”, afirmou.

Em entrevista à imprensa antes do embate no plenário, Arruda desqualificou o requerimento, chamando-o de “infantil” e reafirmando críticas à deputada: “Ela ainda acha que está em ambiente estudantil. Dá pra perceber pela forma como fala e até pelas roupas”. O deputado alegou que suas faltas foram justificadas e que o suplente compareceu em seu lugar, o que Ana Júlia contesta, afirmando que o suplente não participou das reuniões.

Mais tarde, Ana Júlia subiu à tribuna e reforçou a gravidade do episódio. “Vim denunciar a violência política de gênero que enfrento. Fui atacada por exercer meu direito regimental de pedir o afastamento de um deputado que não comparece às reuniões. Fui desmoralizada por ser jovem, mulher, de primeiro mandato, por minha forma de falar e até pela maneira como me visto. Isso é inaceitável”, declarou.

Na tribuna, a deputada Ana Júlia Ribeiro também rebateu as críticas direcionadas à sua forma de se vestir. “Não sei se, em algum momento, alguém aqui se sentiu incomodado com minhas roupas. Eu nunca tive qualquer problema com isso, seja dentro ou fora da Assembleia. E não vejo motivo para desqualificar minha atuação pelo fato de eu ter vindo do movimento estudantil, algo do qual tenho muito orgulho”, declarou.

Ela também criticou a tentativa do deputado Ricardo Arruda de associá-la exclusivamente à sua trajetória anterior. “É curioso que, para tentar justificar o injustificável, ele recorra a esse tipo de ataque, por eu ser jovem, mulher e recém-eleita. Minha eleição foi tão legítima quanto a dele. O que falta é respeito.”

Durante seu discurso, Ana Júlia solicitou providências da Bancada Feminina da Assembleia e cobrou do presidente da Casa, deputado Alexandre Curi, uma resposta ao requerimento sobre a substituição de Arruda na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Líder da Bancada Feminina, a deputada Mabel Canto (PSDB) também se posicionou. “Não cabe a ele comentar sobre a roupa de uma deputada. Todos aqui podem ver que Ana Júlia está vestida de forma apropriada – e mesmo que não estivesse, ela tem o direito de usar o que quiser. Somos uma Casa que se compromete com os direitos das mulheres. Esse tipo de postura não pode ser tolerado.”

A Secretaria Estadual de Mulheres do Partido dos Trabalhadores também divulgou uma nota em solidariedade a Ana Júlia, destacando que “reduzir uma mulher ao que ela veste é uma prática antiga e misógina, usada para deslegitimar sua presença em espaços de poder. Quando essa atitude parte de outro parlamentar, ela se configura como violência política de gênero e precisa ser enfrentada com firmeza.”

Atividades fora da CCJ

Enquanto acumulava faltas na Comissão de Constituição e Justiça, Ricardo Arruda seguia com sua agenda ligada ao bolsonarismo. Em 25 de março — data de uma das ausências —, o deputado publicava nas redes sociais críticas ao Supremo Tribunal Federal, que no mesmo dia tornou Jair Bolsonaro réu. Já no dia anterior, 24 de março, também ausente da CCJ, ele compartilhou vídeos com ataques ao presidente Lula, ao vice-presidente Geraldo Alckmin e fez publicações sobre projetos polêmicos, como o que visa proibir a vacinação de crianças.

Por fim, o presidente da Alep, Alexandre Curi, informou que o requerimento apresentado por Ana Júlia foi protocolado fora do horário regimental da última quarta-feira, mas que entraria na pauta da sessão seguinte. Ele garantiu que o direito ao contraditório será assegurado.

Repúdio

O bloco parlamentar formado por PT e PDT na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) divulgou uma nota pública em apoio à deputada Ana Júlia Ribeiro (PT), após o episódio de violência política de gênero envolvendo o deputado Ricardo Arruda (PL). O grupo criticou as declarações de Arruda.

Na nota, o bloco destaca a atuação da deputada como “exemplo de trabalho e representatividade” e afirma que a tentativa de deslegitimá-la é inaceitável, especialmente em um espaço institucional. “O que define uma pessoa não são suas vestes, mas seu compromisso com a sociedade, sua coragem em defender causas justas e o respeito com os colegas”, diz o texto.

Os parlamentares também reforçam o repúdio a posturas discriminatórias e reafirmam o compromisso do bloco com a defesa da igualdade de gênero e do respeito entre os membros da Casa. “Não compactuamos com comportamentos que desrespeitem a dignidade de parlamentares, especialmente quando se trata de mulheres que rompem barreiras e atuam com coragem”, conclui o posicionamento.

 

Créditos: Da redação