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A menina que fez Ney Matogrosso pensar em matar um homem

Trecho de biografia revela episódio marcante vivido pelo cantor nos anos 1960, durante trabalho em hospital infantil

Por Gazeta do Paraná

A menina que fez Ney Matogrosso pensar em matar um homem

Desde a estreia do documentário Homem com H na Netflix, a vida e a trajetória de Ney Matogrosso voltaram ao centro dos holofotes e, com ela, histórias pouco conhecidas do artista vieram à tona. Uma das mais impactantes está na biografia Ney Matogrosso, escrita por Julio Maria e publicada pela Companhia das Letras em 2021.

O livro relata um episódio ocorrido no fim dos anos 1960, quando Ney atuava na ala infantil do Hospital de Base de Brasília. Lá, ele criou um vínculo profundo com Luzinete, uma menina de apenas quatro anos, internada com metade do rosto desfigurado após ser agredida pelos próprios pais.

Ney cuidou da criança com dedicação até que ela teve alta médica e foi devolvida à família. Poucos dias depois, no entanto, a menina foi encontrada novamente desta vez quase morta, jogada em um capinzal, com o corpo tomado por formigas. Luzinete havia sido estuprada pelo próprio pai.

“Ney quis matar o homem”, relata o livro. Ele chegou a buscar informações sobre o paradeiro do agressor, mas soube apenas que ele estava foragido em uma das regiões mais afastadas e vulneráveis do Distrito Federal.

Quando Luzinete voltou ao hospital para ser tratada novamente, Ney entendeu que sua presença ao lado da menina era mais importante do que qualquer desejo de vingança.

“O tio hippie entendeu que a vida da menina importava mais do que a vingança”, diz um trecho da biografia.

A experiência marcou profundamente o artista, que passou dois anos atuando com crianças muitas delas em estado terminal, abandonadas pelos pais ou vítimas de violência doméstica. Ney transformou a ala infantil em um espaço de acolhimento: comprava tinta, barro e argila com seu próprio salário para atividades com os pequenos pacientes. Também conduzia crianças em cadeiras de rodas até o zoológico e exigia cuidado dos enfermeiros durante procedimentos delicados.

Ao saber de novas oportunidades no teatro no Rio de Janeiro, Ney decidiu retornar à cidade natal. Mas partiu com o coração apertado:

“A maior incerteza era se, em algum momento, a menina voltaria para os braços do pai. Foi a única dor que Ney sentiu ao partir”, narra o autor Julio Maria.

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