Vivendo da palhaçaria: Palhaço Tico Bonito é o novo entrevistado do GCast Mais+
O último entrevistado pelos apresentadores Bruna Bandeira e Lucas Gabriel foi o palhaço Tico Bonito. Durante o bate-papo, o artista refletiu sobre sua trajetória profissional
Tico Bonito é o mais novo convidado do GCast Mais+, o videocast da Gazeta do Paraná, que tem o objetivo de divulgar e trazer mais visibilidade para temas e artistas do cenário cultural de Cascavel e do estado do Paraná. O programa, apresentado pelos jornalistas Bruna Bandeira e Lucas Gabriel, vai ao ar nas quartas-feiras, sempre às 19 horas, no canal da Gazeta do Paraná, no You-Tube.
Tico Bonito foi o quinto entrevistado do programa, que vem proporcionando debates e discussões sobre a realidade dos artistas locais e sobre a importância da arte, independente do seu formato, para a sociedade.
A entrevista começou com a apresentação de Tico Bonito, palhaço e artista de rua, reconhecido também pelo seu posicionamento ativo em defesa da cultura local. Tico deu início ao bate-papo refletindo sobre a escolha da arte da palhaçaria, não só como profissão, mas como propósito de vida. O artista ainda aproveitou para trazer mais detalhes sobre a sua trajetória profissional: “A palhaçaria foi um meteoro que caiu, porque eu já trabalhava com teatro desde os meus 14 anos, em 1996, mas a palhaçaria foi acontecer em 2004. Eu já tinha uma experiência com teatro, com dar aulas e oficinas de teatro e já havia essa busca por técnicas. Nesta busca por dar aulas, participei de um festival, onde eu vi que a arte de rua aproxima, diferente do teatro, onde as pessoas estão distantes, em cima de um palco, e comecei a estudar a palhaçaria de rua ”, relembra.
Ele relembra que montou um grupo com outros dois colegas para fazer apresentações de palhaçaria e conta que, desde o início, sempre acreditou na democraticidade da arte de rua: “Tudo foi se ramificando a partir do processo de aceitar que a arte de rua é democrática, não é para quem tem dinheiro, a arte de rua é de apresentar na rua, independente se você tem ou não dinheiro. É uma outra forma de pensar a arte, a economia, o viver da arte, e entender que você, como artista, está criando um produto”, reflete.
Para ele, uma outra diferença entre os espetáculos montados para serem apresentados na rua e as produções criadas para serem apresentadas em ambientes teatrais, está no processo de produção de cada um: “Quando falamos em vender um espetáculo de teatro, você vai fazer um espetáculo, vender ingressos, pensar um um marketing de como vender este espetáculo, tudo para chegar no número de ingressos que você quer vender. O teatro de rua não, o teatro de rua é um encontro, você encontra pessoas que estão indo para o trabalho, indo almoçar”, pontua.
O retorno financeiro também é um fator que difere ambas as montagens, o palhaço conta sua experiência em ambos os meios. Ele explica que, nos casos de espetáculos montados em ambientes teatrais, o público compra o ingresso previamente antes de assistir ao espetáculo. Já nas produções apresentadas na rua, o retorno financeiro vem da contribuição espontânea dos espectadores, que podem deixar valores em dinheiro em um chapéu, posicionado à frente do artista : “O chapéu é consequência do trabalho bem feito, diferente do ingresso, é uma consequência, é uma conquista financeira. O ingresso de espetáculos é o você pagar para ver o artista, já o chapéu é uma contribuição de quem gostou”, conta.
Impacto artista-público
Que a arte é capaz de modificar ambientes e impactar o público, isso não é novidade para ninguém, mas o apresentador Lucas Gabriel convidou o palhaço Tico Bonito a refletir sobre o impacto causado pelo público, que nem sempre dá a devida atenção e valorização para artistas que se apresentam nas ruas: “Uma coisa que a gente fazia no teatro é a máscara neutra, que é se posicionar, olhar a pessoa de frente e reagir ao que ela está me trazendo, e uma das coisas aprendemos é aceitar a vida, e quando eu vou para rua eu vou com a máscara neutra, sem expectativa. Houveram muitas vezes em que eu fui para rua para fazer dinheiro, porque estava precisando, e não consegui, houveram vezes em que eu só fui para me divertir, e consegui dinheiro”, esclarece.
Para ele, a arte, seja na performance de rua ou em outras modalidades, é uma forma de nutrição da vida. Um impacto causado pela arte de rua é o de dar mais sentido à existência: “A gente trabalha, come e dorme. A gente vive para se nutrir de alimento e de físico, mas a gente não vive para nutrir nosso psicológico de arte, música, dança, teatro e pintura”,conta.
Uma relação de impacto que também foi abordada durante a entrevista, além das relações que envolvem público e artista ou artista e público, foi a que refletiu a maneira como a arte de rua vem sendo recebida poder público dos locais onde passa: “Sempre se dá a partir de um processo político, daquilo que os políticos constroem como arte e cultura, e querendo ou não, os processos políticos eles estão muito dicotômicos, unilaterais. Nós passamos por uma fase muito boa, em 2013, depois passamos por processos políticos que apontavam a arte como ‘coisa de vagabundo’, e construíram uma opinião para saciar uma base de eleitores que nos aponta como vagabundos. A diferença é que a nossa profissão tem a obrigação de ‘fazer festa’, o trabalho enobrece o homem, mas o descanso também, quando me chamam de vagabundo, você está abrindo mão de um direito seu, de ter arte, de ter cultura, acesso ao lazer”, finaliza.
Para conferir a entrevista completa, basta acessar o canal da Gazeta do Paraná, no You-Tube. O Caderno Mais reforça que o videocast Mais+ conta com novos episódios, sempre com entrevistados locais, todas as quartas-feiras, às 19 horas, no canal da Gazeta do Paraná, no You-Tube. Ative o sino das notificações, para não perder nenhum episódio.
Trecho
“Sempre se dá a partir de um processo político, daquilo que os políticos constroem como arte e cultura, e querendo ou não, os processos políticos eles estão muito dicotômicos, unilaterais. Nós passamos por uma fase muito boa, em 2013, depois passamos por processos políticos que apontavam a arte como ‘coisa de vagabundo’, e construíram uma opinião para saciar uma base de eleitores que nos aponta como vagabundos. A diferença é que a nossa profissão tem a obrigação de ‘fazer festa’, o trabalho enobrece o homem, mas o descanso também, quando me chamam de vagabundo, você está abrindo mão de um direito seu, de ter arte, de ter cultura, acesso ao lazer”
-Tico Bonito
Palhaço
Créditos: Redação