“Se cair mais o preço do petróleo, vamos reduzir os preços dos combustíveis”, diz Presidente da Petrobras
Atualmente, tanto o diesel quanto a gasolina vendida pela Petrobras estão com valores inferiores ao chamado PPI
Por Da Redação

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, declarou nesta semana que os preços dos combustíveis vendidos pela estatal às distribuidoras podem cair ainda mais nas próximas semanas. A declaração foi feita durante um evento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, e é embasada por dois fatores centrais: a queda na cotação internacional do petróleo e a valorização do real frente ao dólar.
"Estamos abaixo do preço de paridade. Então, por enquanto, estamos acompanhando. E se cair mais o preço do petróleo, é certo que vamos reduzir os preços dos combustíveis. Não é só gasolina, não. Diesel e QAV também. Mas, nesse momento, estamos confortáveis", afirmou a executiva.
Atualmente, tanto o diesel quanto a gasolina vendida pela Petrobras estão com valores inferiores ao chamado Preço de Paridade de Importação (PPI), que considera o custo de importar o combustível, somado aos encargos e à logística. O petróleo do tipo Brent, referência internacional, estava cotado a cerca de US$ 65 por barril nesta segunda-feira (26), aproximadamente US$ 10 abaixo do valor registrado no fim de março. O dólar, por sua vez, caiu de um patamar acima de R$ 6 para R$ 5,67 no mesmo período.
Desde o início de abril, a estatal já realizou três cortes consecutivos no preço do diesel repassado às distribuidoras, totalizando uma redução de R$ 0,45 por litro. A perspectiva, segundo Magda Chambriard, é de que haja nova rodada de cortes se a tendência de queda do Brent continuar.
“Se o preço do Brent baixou e o câmbio se valorizou, tem tudo para ter redução”, disse a presidente, referindo-se também ao querosene de aviação (QAV), que tem reajuste mensal. O gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, também pode ser impactado por esse cenário mais favorável, de acordo com a executiva.
Apesar da política de cortes promovida pela Petrobras, a redução no preço dos combustíveis nem sempre é percebida diretamente pelos consumidores. Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostram que, desde janeiro de 2023, o preço da gasolina vendida pela estatal às distribuidoras caiu 9%. No entanto, nas bombas, o combustível subiu 26% no mesmo período. A diferença, segundo analistas, pode ser explicada por um aumento expressivo nas margens de lucro das distribuidoras e dos postos.
O economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), aponta que, entre 2019 e 2025, a margem de lucro do setor aumentou 43%. Em 2020, a margem média sobre a gasolina era de R$ 0,64 por litro. Hoje, esse valor ultrapassa R$ 1. No caso do gás de cozinha, o crescimento foi ainda mais significativo: as margens subiram mais de 70% desde a privatização da Liquigás, em 2021.
A presidente da Petrobras criticou essa discrepância e orientou que os consumidores questionem os postos de combustíveis. “A gente recomenda que o consumidor pergunte por que isso não está chegando à ponta. Pressiona, pergunta porque isso está acontecendo”, afirmou.
Segundo Chambriard, as privatizações feitas durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro reduziram o controle da Petrobras sobre o mercado de distribuição e revenda de combustíveis. A estatal vendeu a BR Distribuidora (hoje Vibra) e a Liquigás, repassando ao setor privado a definição de boa parte dos preços ao consumidor final. “A Petrobras perdeu poder sobre a ponta. E o resultado é esse: a gente reduz os preços nas refinarias, mas isso não chega ao cidadão”, criticou.
A diferença entre o preço nas refinarias e nas bombas também é evidente no caso do diesel, combustível essencial para o transporte de cargas e que impacta diretamente os preços de alimentos e produtos no Brasil. Desde janeiro de 2023, a Petrobras reduziu em 34,9% o preço do diesel repassado às distribuidoras. No entanto, para o consumidor final, a queda foi de apenas 3,18% no período.
“A partir de 1º de abril, reduzimos R$ 0,45 no litro do diesel e, infelizmente, esse valor não está sendo percebido pelo consumidor final”, lamentou o diretor de Logística, Comercialização e Mercados da estatal, Claudio Romeo Schlosser.
Mesmo com a discrepância entre os preços da refinaria e os preços nos postos, os dados mais recentes indicam uma leve tendência de queda. Segundo o Índice de Preços Edenred Ticket Log (IPTL), o preço médio da gasolina caiu 0,46% e o do etanol 0,67% em abril. A gasolina foi comercializada, em média, a R$ 6,46 o litro, enquanto o etanol custou R$ 4,48. A menor média foi registrada no Sudeste, onde a gasolina foi vendida a R$ 6,31 e o etanol a R$ 4,38.
A Petrobras avalia os preços do petróleo quinzenalmente para definir seus reajustes. Caso a tendência de queda se mantenha, um novo anúncio de redução pode acontecer já na próxima semana. Para o consumidor, no entanto, o alívio no bolso dependerá não só da estatal, mas também da disposição de distribuidoras e revendedores em repassar esses cortes.