Saxofonista solitário encanta pedestres na Avenida Brasil e revela história de superação
A música entrou na Eldisnei dos Santos na cama de um hospital, após dois anos internado
Por Gazeta do Paraná

No último sábado (24), quem passou pela movimentada Avenida Brasil, bem no coração de Cascavel, foi surpreendido por uma cena incomum, mas marcante: um músico solitário, de semblante tranquilo e olhar sereno, fazia ressoar notas suaves de seu saxofone. Músicas que iam da MPB ao gospel, passando por jazz e até trilhas instrumentais conhecidas, preencheram o ar e interromperam, por alguns instantes, a correria cotidiana de quem cruzava a região central.
Enquanto os acordes se espalhavam entre carros, calçadas e vitrines, um homem, visivelmente cansado após a jornada de trabalho, parou. Ficou ali, imóvel, com os olhos fixos no músico, como se tivesse hipnotizado. A cena chamou a atenção da Gazeta do Paraná, que decidiu saber quem era o artista por trás daquele som tão expressivo.
O nome dele é Eldisnei dos Santos, eletricista industrial, mineiro de Belo Horizonte e morador de Cascavel há 12 anos. O que parecia apenas uma apresentação de rua revelou-se uma história de vida digna de livro — talvez até de um longa-metragem.
Eldisnei conta que sua relação com a música nasceu em meio à dor e ao sofrimento. Aos 15 anos, sofreu um grave acidente e passou dois anos internado em um hospital. Foi durante esse período sombrio que a luz da música entrou em sua vida — literalmente, por meio de uma flauta doce.
“Fiquei em uma cama por dois anos. Meu irmão colocou o instrumento, uma flauta doce, na minha bolsa, e meu pai, quando foi me visitar no hospital, levou essa flauta até mim. Comecei a tocar ainda deitado, no leito”, conta com emoção.
Ali, naquele quarto de hospital, nascia o músico que muitos viram anos depois nas ruas de Cascavel. Quando finalmente teve alta, Eldisnei se dedicou cada vez mais à música. Influenciado pelo tio, Mauro, saxofonista experiente, decidiu seguir o mesmo caminho. Comprou seu primeiro saxofone, fez aulas, praticou, estudou e não parou mais.
Apesar do amor declarado à música, Eldisnei nunca deixou sua profissão de lado. Atua como eletricista industrial na Coopavel, onde trabalha com dedicação.
Sempre que tem um tempo livre, especialmente aos fins de semana, ele pega seu saxofone, leva a filhinha para brincar no parquinho da Avenida Brasil e transforma o espaço urbano em um verdadeiro palco a céu aberto. Enquanto ela brinca ele toca e a diversão da filhinha é garantida.
Quem passa por ali raramente imagina a história de superação por trás de cada melodia. Talvez por isso o impacto seja tão forte. Não é só o som bonito, é o sentimento que transborda. A música de Eldisnei não vem apenas dos pulmões ou dos dedos — vem da alma de alguém que já conheceu a dor, mas escolheu espalhar beleza.
O eletricista-músico não se vê como artista profissional. Não vive de cachês, não tem agenda de shows, não grava discos nem vende CDs. Mas em cada nota soprada pelo sax, há uma entrega genuína — e o mais importante: há verdade. E isso basta para emocionar.
O sábado comum foi transformado em especial pelo som do saxofone, o homem que assistia a apresentação no meio da calçada teve uma pausa. Uma pausa no barulho do mundo, uma pausa no cansaço, talvez uma pausa na solidão. E tudo isso por causa de um músico que aprendeu, ainda adolescente, que a arte pode ser remédio, ponte, oração, esperança.
Eldisnei dos Santos, com sua história de resiliência e melodia, nos lembra de que a cidade é feita de muito mais do que concreto e buzinas. Às vezes, entre um semáforo e outro, há poesia. E ela pode vir no sopro de um saxofone.