Prisão domiciliar de Bolsonaro gera reação no Congresso e polariza redes
A avaliação no STF é de que Bolsonaro tenta politizar o processo penal que enfrenta
Por Da Redação

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs prisão domiciliar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), provocou fortes reações no cenário político e nas redes sociais. A medida foi anunciada na segunda-feira (4) após o descumprimento de medidas cautelares impostas em julho, como a proibição do uso de redes sociais, inclusive por meio de terceiros.
Segundo Moraes, Bolsonaro manteve uma “conduta ilícita dissimulada”, tentando coagir o STF e obstruir investigações. O ministro apontou que o ex-presidente utilizou redes de filhos e aliados para se dirigir a manifestantes e impulsionar atos políticos, mesmo com restrições judiciais em vigor.
A decisão cita cinco episódios de descumprimento: entre eles, a publicação de um vídeo de Bolsonaro em chamada com Flávio Bolsonaro, exibido nas redes no domingo (3), durante ato em Copacabana. Também foram mencionadas postagens de Carlos Bolsonaro, falas de Eduardo Bolsonaro no YouTube e uma chamada de vídeo mostrada por Nikolas Ferreira em manifestação na Avenida Paulista. Para Moraes, houve uso deliberado da imagem do ex-presidente para pressionar a Suprema Corte e instigar ataques.
Com a nova medida, Bolsonaro deverá permanecer em casa com tornozeleira eletrônica, sem visitas (exceto de familiares e advogados), está proibido de usar celulares e de manter contato com outros investigados ou autoridades estrangeiras. A decisão se insere no contexto de uma investigação que apura articulações para pressionar o Judiciário com apoio externo.
Suprema Corte em alerta
A avaliação no STF é de que Bolsonaro tenta politizar o processo penal que enfrenta, especialmente às vésperas do julgamento da ação sobre a tentativa de golpe de Estado, previsto para setembro. Ministros entendem que os atos recentes buscam desviar o foco do processo e intimidar a Corte.
Para integrantes do Supremo, Moraes não teve outra alternativa senão endurecer, sob o risco de desmoralização diante do descumprimento público das medidas. Há também a expectativa de novas tensões até 2026, com o bolsonarismo recorrendo a confrontos institucionais e atos de pressão.
Em paralelo, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar tentativa de obstrução da Justiça. A defesa do ex-presidente nega qualquer violação e afirma que ele não pediu que conteúdos fossem postados.
Reação no Congresso
A decisão repercutiu de imediato entre parlamentares aliados de Bolsonaro. Senadores e deputados de oposição protestaram nesta terça-feira (5), com atos simbólicos e promessa de obstruir votações no Congresso.
Polarização nas redes sociais
A repercussão digital também foi intensa. Segundo levantamento da Quaest, 53% das postagens nas redes sociais aprovaram a prisão domiciliar, enquanto 47% se posicionaram contra. O volume de menções foi alto: 1,2 milhão em poucas horas, com picos de até 51 mil por hora.
Entre os críticos da medida, predominaram acusações de abuso de autoridade e perseguição política. Já entre os que apoiaram Moraes, o tom foi de comemoração e defesa da Justiça.
Quarto ex-presidente preso desde a redemocratização
Com a decisão, Bolsonaro se torna o quarto ex-presidente a ter prisão decretada desde 1988. Antes dele, Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer e Fernando Collor também foram presos, por diferentes acusações. Bolsonaro está inelegível até 2030 e responde a diversos inquéritos por ataques às instituições e uso indevido da máquina pública.
A prisão domiciliar amplia a crise entre o ex-presidente e o Judiciário e marca um novo capítulo na disputa institucional que deve se intensificar até o próximo ciclo eleitoral.
Lula evita confronto direto
Durante evento no Palácio Itamaraty nesta terça-feira (5), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou tom cauteloso ao comentar a prisão do adversário político. Disse que mediria as palavras “pela seriedade do momento político” e afirmou que não gostaria de falar diretamente sobre a prisão de Bolsonaro.
“Acho que hoje é um dia de dar boas notícias”, disse Lula. Em seguida, sem citar nomes, fez uma referência indireta ao episódio: “Também não quero falar do que aconteceu hoje com o outro cidadão brasileiro que tentou dar um golpe”.
Lula também ironizou suposições sobre temer represálias internacionais: “Não quero que vocês digam: ‘por que o Lula não falou? Está com medo do Trump’. E eu não quero que vocês saiam com essa imagem”.
