Prisão de MC Poze gera críticas sobre abordagem policial e levanta debate nas redes sociais
Imagens da detenção do funkeiro repercutem na internet e são comparadas a ações da polícia contra criminosos de classe alta; artistas e internautas apontam seletividade e preconceito
Por Gazeta do Paraná

A prisão temporária do cantor Marlon Brandon Coelho Couto, mais conhecido como MC Poze do Rodo, na manhã desta quinta-feira (29), desencadeou uma onda de manifestações nas redes sociais. O principal motivo da indignação popular foi a forma como o artista foi conduzido por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ).
Nas imagens amplamente compartilhadas, MC Poze aparece sendo escoltado sob forte aparato policial, com uso visível de força. A maneira da abordagem gerou críticas de artistas e internautas, que apontam tratamento diferenciado quando se trata de figuras públicas da periferia em comparação a criminosos do chamado “colarinho branco”.
Cantores como Oruam e Major RD saíram em defesa do funkeiro. “Algemaram o Poze, nem precisava disso, o cara é exemplo para várias pessoas. Eles gostam de denegrir nossa imagem”, afirmou Oruam em vídeo publicado em suas redes sociais. Major RD foi ainda mais direto: “Mó covardia prender o menor dessa forma. Segurado pelo pescoço como se fosse o maior traficante do Rio de Janeiro”, disparou.
Comparações e indignação
Nas redes, muitos usuários denunciaram o que consideram uma abordagem desproporcional e seletiva. Publicações no X (antigo Twitter) compararam a ação com a prisão do contraventor Rogério de Andrade. Uma internauta destacou: “Duas imagens, mesmos crimes, duas pessoas diferentes. Isso tem nome.” Outro usuário escreveu: “Com bicheiros, são uns gatinhos. Com artista favelado, são leões.”
A hashtag #JustiçaParaPoze chegou a figurar entre os assuntos mais comentados do dia, acompanhada de discussões sobre racismo estrutural, criminalização da cultura das favelas e a constante vigilância sobre artistas que ascendem por meio do funk.
O posicionamento da polícia
A Polícia Civil do Rio de Janeiro alega que a prisão se baseia em investigações que apontam ligação de Poze com membros da cúpula do Comando Vermelho (CV), uma das principais facções criminosas do estado.
Em coletiva de imprensa, o secretário estadual de Polícia Civil, delegado Felipe Curi, justificou a operação afirmando que as músicas do artista funcionariam como “instrumento de propaganda” da organização criminosa. “Temos que separar quem é artista e quem é integrante da facção criminosa, elemento travestido de artista. Essa ideologia, às vezes, é muito mais lesiva do que um tiro de fuzil na favela”, declarou.
A fala intensificou ainda mais os questionamentos sobre a criminalização da cultura das favelas e o papel da arte como forma de expressão da realidade social dos territórios marginalizados.
Desdobramentos
MC Poze foi preso em sua residência, no Rio de Janeiro, e segue detido temporariamente enquanto as investigações prosseguem. Até o momento, a defesa do cantor ainda não se manifestou oficialmente sobre os fatos.
A situação segue em destaque nas redes sociais, evidenciando não apenas a comoção causada pela prisão de um artista popular, mas também o debate sobre o limite entre a atuação policial e o respeito aos direitos individuais.
Para muitos, o episódio escancara uma realidade antiga: a de que, no Brasil, o peso da lei nem sempre é o mesmo para todos.