Preço do café deve continuar subindo
Café segue em alta nas prateleiras e deve pesar ainda mais no bolso até o fim do ano
Por Gabriel Porta

Olá, leitor do Caderno Agro! Talvez você esteja lendo esta reportagem com uma xícara de café na mão — e se for o caso, está em boa companhia. Afinal, o café é mais do que uma bebida: é parte da rotina, da cultura e até da identidade brasileira. Desde que desembarcou por aqui, há mais de dois séculos, o grão se firmou como presença indispensável em lares, comércios e fazendas. Só que, cada vez mais, esse hábito nacional tem pesado no bolso.
Um dos principais responsáveis pela alta no custo da cesta básica, o café deve seguir com preços elevados neste mês e pode ficar ainda mais caro no segundo semestre, de acordo com especialistas do setor.
Segundo o economista Vander Piaia, a relação entre oferta e demanda é uma das principais causas do encarecimento do produto. “Nos últimos anos, houve um crescimento significativo do consumo global de café, mas a área plantada e a produção não acompanharam esse aumento”, explica.
Piaia destaca ainda que, ao contrário de culturas como a soja, que tem um ciclo de produção de cerca de seis meses, o café leva, em média, cinco anos para atingir a maturidade após o plantio. “Para ampliar a oferta de café, é necessário planejamento e tempo. Se não houver esse movimento também por parte de outros países, a tendência é de manutenção — ou até aumento — dos preços desse precioso líquido.”
Outro fator que deve pressionar os preços é a expectativa de queda na produção de Minas Gerais, principal estado produtor do grão no Brasil. De acordo com dados divulgados no início da semana (06) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita mineira para a safra de 2025 deve alcançar 26,09 milhões de sacas de 60 quilos — uma redução de 7,1% em relação à safra anterior. No país como um todo, a previsão é de leve alta de 2,7%, totalizando 55,7 milhões de sacas.
Para o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio, a queda na produção em Minas pode afetar diretamente a indústria. “Essa redução tende a pressionar os custos da matéria-prima, o que deve se refletir gradualmente nos preços ao consumidor final.”
Ele ressalta que, neste momento, o café negociado ainda é o da safra de 2024, o que ajuda a manter certa estabilidade nos preços. “Mas a partir do segundo semestre, especialmente no terceiro trimestre, os impactos começarão a ser sentidos.”
Entre os fatores que impulsionaram o aumento da demanda, Piaia cita as mudanças de hábito provocadas pela pandemia. “As pessoas passaram a trabalhar mais em casa, e isso modificou a relação com o consumo de café.” Além disso, dois dos países mais populosos do mundo, China e Índia, têm substituído progressivamente o chá pelo café, o que pressiona ainda mais a demanda global.
O economista também aponta os efeitos climáticos como determinantes. “Na última safra, tivemos problemas graves de seca em regiões de grande plantação, o que prejudicou a formação do grão e reduziu a oferta do produto.”
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o café em pó acumulou alta de 50,75% nos últimos 12 meses — variação que pesa diretamente no bolso do consumidor.
Apesar disso, Inácio acredita ser cedo para prever qual será o percentual de aumento a partir da nova queda de produção. “É muito prematuro estimar um número, pois ainda dependemos de fatores como o clima, a logística e a oferta internacional”, pondera.
A Conab prevê que, em Minas, 25,6 milhões de sacas sejam de café arábica — queda de 7,4% em relação a 2024. Por outro lado, a produção de café conilon deve crescer 14,1%, chegando a 443,7 mil sacas. Isso pode levar o consumidor a adaptar suas preferências, buscando opções mais acessíveis.
“Os cafés especiais, que utilizam grãos mais complexos e de alta qualidade, tendem a ser mais impactados, pois dependem fortemente da produção do arábica. Já as versões tradicional e extra forte também podem sofrer aumentos, mas de forma um pouco mais moderada”, conclui o diretor da Abic.