Museu do Holocausto caracteriza como 'ultraje' saudação semelhante a usada no nazismo feita por bolsonaristas em Santa Catarina
Por Giuliano Saito
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Durante manifestação em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina participantes repetiram gesto semelhante à saudação nazista 'Sieg Heil'. Ministério Público concluiu que os braços foram estendidos para 'emanar energias positivas'. MP apura gesto semelhante ao nazista feito por bolsonaristas em ato em Santa Catarina O Museu do Holocausto, em Curitiba, publicou uma nota afirmando que o gesto realizado por manifestantes bolsonaristas durante uma manifestação contra o resultado das eleições é "ofensivo" e um "ultraje". "Estética e contexto (social e histórico) deveriam ser suficientes para que não precisássemos nos deparar com cenas ofensivas como estas. A tentativa de associar esse gesto ao juramento à bandeira é mais um ultraje que a Justiça e a educação antifascista precisarão se debruçar", afirmou o museu. A nota foi publicada na quarta-feira (2), nas redes sociais do museu. O comunicado acena também que o contexto em que foi realizado mostra que o gesto teve um significado maior, além de apenas um juramento à bandeira, justificativa dada por apoiadores das manifestações. A manifestação aconteceu em São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, na quarta-feira (2) em frente ao 14º Regimento de Cavalaria Mecanizado, base do Exército na cidade. No local os manifestantes repetiram um gesto semelhante à saudação nazista "Sieg Heil", uma espécie de reverência. O registro mostra as pessoas em via pública, na BR-163, cantando o hino e com as mãos estendidas em direção a um tanque de guerra na entrada da base militar. É possível ver que o gesto, que consiste na mão estendida, é repetido por centenas de pessoas, homens e mulheres, vestidos de verde e amarelo. Assista no vídeo acima. Museu do Holocausto considera gesto feito durante manifestação bolsonarista um "ultraje" Reprodução/Twitter Uma investigação realizada pelo Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) concluiu que o gesto não teve intenção de apologia ao nazismo, e que os braços foram estendidos para "emanar energias positivas". Leia mais sobre a investigação abaixo. O Museu do Holocausto de Curitiba foi inaugurado em 2012. O acervo narra os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, por meio de histórias de sobreviventes que possuem alguma ligação com o Brasil e, em especial, com o Paraná. Com relatos e objetos, o espaço apresenta fatos da luta contra a intolerância e o ódio. O objetivo, segundo o museu, é buscar a promoção da discussão sobre o preconceito e a violência, ao longo dos séculos XX e XXI. Museu do Holocausto, em Curitiba Giuliano Gomes/PRPress O que diz a lei A apologia do nazismo usando símbolos nazistas, distribuindo emblemas ou fazendo propaganda desse regime é crime previsto em lei no Brasil, com pena de reclusão. O que a lei brasileira diz sobre apologia do nazismo A apologia do nazismo se enquadra na Lei 7.716/1989, segundo a qual é crime Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa – ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meios de comunicação social. Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. Essa lei é respaldada pela própria Constituição, que classifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Isso significa que o racismo pode ser julgado e sentenciado a qualquer momento, não importando quanto tempo já se passou desde a conduta. O que a lei brasileira diz sobre apologia do nazismo Inicialmente, não havia menção ao nazismo na legislação, que era destinada principalmente ao combate do racismo sofrido pela população negra. Apenas em 1994 e 1997 foram incluídas as referências explícitas ao nazismo, por projetos de lei apresentados por Alberto Goldman e Paulo Paim. Investigação do MP O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou que abriu na quarta-feira (2) uma investigação para apurar a saudação, que configura apologia ao nazismo, considerada crime no Brasil. Em investigação preliminar, o órgão apontou que não houve intenção de apologia ao nazismo no ato e que não há evidências de prática de crime. O órgão identificou manifestantes, analisou imagens e ouviu testemunhas. Apesar de entender que não houve apologia ao nazismo, o Gaeco afirmou que a atitude é "absolutamente incompatível com o respeito exigido durante a execução do hino nacional" e pode gerar alguma responsabilidade. Gesto repetido por centenas de pessoas em São Miguel do Oeste (SC) Reprodução De acordo com o que foi apurado, o gesto foi feito pelos manifestantes após serem conclamados pelo locutor do evento, empresário local, a estenderem a mão sobre o ombro da pessoa a sua frente ou, se não houvesse, para que estendessem o braço, a fim de "emanar energias positivas". O relato foi confirmado por um policial que acompanhava a manifestação, bem como por diversos repórteres que estavam no evento. Durante a apuração, não foram encontradas ligações do locutor com o nazismo. Além disso, após análises das imagens, ficou demonstrado que não havia a presença de bandeira neonazista no ato. VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.
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