Ponto 14

MP protocola ação contra Piraí do Sul por discriminação racial em desfile com crianças negras retratadas como escravizadas

Por Giuliano Saito


Promotoria pede que Justiça reconheça dano moral coletivo e que Município pague multa a fundo de Promoção da Igualdade Racial. Estudantes negros de escola municipal foram retratados como escravos em desfile Divulgação O Ministério Público do Paraná (MP-PR) protocolou na Justiça uma ação civil pública contra a Prefeitura de Piraí do Sul, nos Campos Gerais, por discriminação social. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (13). O processo trata de desfile cívico com alunos de escolas municipais, em setembro de 2022, no qual crianças negras foram retratadas como escravizadas. O Município de Piraí do Sul disse, em nota, ainda não ter sido notificado sobre o processo, mas que, quando for, tomará as providências cabíveis. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram A ação proposta pela Promotoria de Justiça no município aponta que a escolha dos alunos representados como escravos - a maioria pretos e pardos - foi feita a partir de critérios racistas. O Ministério Público destaca que outros personagens históricos retratados no desfile, como integrantes da corte portuguesa, foram representados principalmente por estudantes brancos. Ainda que na época, publicamente, o município tenha dito que a forma como os alunos foram distribuídos nas alas do desfile não tenha sido discriminatória, a promotoria apontou ser evidente a prática de racismo na forma velada. Para a promotoria, a organização do desfile violou duas normas constitucionais: de proteção da dignidade da pessoa humana e de proteção da população negra contra o racismo. MP apura desfile cívico em que crianças negras foram retratadas como escravos Leia também: Defensores públicos classificam como de 'extrema gravidade' ato que retratou crianças negras como escravizadas Enedina Alves Marques: conheça a primeira engenheira negra do Brasil VÍDEO: homens furtam pavão de restaurante em Matinhos Dano moral coletivo Na ação, o MP-PR pede à Justiça o reconhecimento de dano moral coletivo e a condenação do município a repará-lo por meio de multa em prol do Fundo Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A promotoria também pede que o município apresente projeto de promoção da igualdade racial no âmbito das escolas. A iniciativa, propõe o MP, deve incluir ações "para toda a comunidade escolar (alunos, famílias, professores e servidores) voltadas à difusão da cultura, história e filosofia negras, bem como ao combate ao racismo" e que comecem em março de 2023, no início do ano letivo. Além disso, a promotoria pede à Justiça que o município seja obrigado a elaborar e a executar um projeto de promoção da igualdade racial que inclua ações destinadas à população e a servidores municipais. As palestras e oficinas, por exemplo, sugere o MP, devem buscar "estabelecer standards de comportamento antidiscriminatórios por meio do oferecimento de treinamento, difusão de informações e adoção de práticas que promovam a igualdade racial”. 'Não foi educativo para ninguém' A representação de crianças como pessoas escravizadas foi contestada por uma especialista em educação, que avaliou a cena como grave e carregada de estereótipos. Assista abaixo. Para a professora Ione Silva Jovino, o desfile reforçou uma imagem que não gerou nenhum tipo de aprendizado para a população. Segundo a especialista, não se deve falar em escravidão sem se abordar o tema da resistência. Pesquisadora contesta representação de crianças negras como escravas no Paraná Os vídeos mais assistidos do g1 PR: Mais notícias da região em g1 Campos Gerais e Sul.