Moro afirma que pode ser candidato ao Governo do Paraná em 2026
Em entrevista à Gazeta do Paraná, o senador fez um balanço do mandato e disse não se arrepender de ter deixado a magistratura

Eliane Alexandrino/Cascavel
O senador Sergio Moro (União Brasil) afirmou que existe a possibilidade de disputar o Governo do Paraná em 2026. Em entrevista à Gazeta do Paraná, ele disse que a decisão será tomada no fim deste ano ou no início do próximo, mas garantiu que não pretende “deixar o Paraná na mão”.
“Meu mandato no Senado vai até 2030. Existe a possibilidade de eu me candidatar ao Governo do Paraná, mas essa é uma decisão que vou tomar no final do ano ou começo do ano que vem. Hoje, tem muita coisa acontecendo no Brasil e estamos focados em nossa atuação no Senado Federal. Essa é a prioridade, mas o que posso dizer é que não vou deixar o Paraná na mão”, declarou.
A Gazeta do Paraná segue à frente na cobertura da corrida eleitoral de 2026, ouvindo os principais nomes da política paranaense. Um dos cotados para suceder o governador Ratinho Júnior (PSD), Moro aparece entre os favoritos em levantamentos recentes. Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Paraná Pesquisas na última quarta-feira (13), o senador tem índices que variam de 39% a 41,3%.
O ex-juiz da Lava Jato reforçou que, por ora, a prioridade é o Senado, mas não descartou a disputa. Também criticou a possibilidade de o Paraná ter um governo alinhado ao PT.
“O cenário no país é preocupante e não sabemos o que pode acontecer em 2027. Essa incerteza nos dá ainda mais motivos para fazer do Paraná uma fortaleza. Temos que proteger nosso estado das barbaridades promovidas pelo PT. O crime organizado tomou conta de tudo, inclusive com invasões de terra e a presença de facções criminosas. Não podemos correr esse risco no Paraná”, afirmou.
Por outro lado, Moro destacou a força econômica do estado paranaense e que quer proteger o estado.
“Temos orgulho do nosso Paraná. Somos líderes em vários setores do agro, como na produção de cevada e na exportação de frango. Somos o segundo maior produtor de leite do país e alcançamos o quarto maior PIB entre os estados. Mas por que não buscar o primeiro lugar em tudo? Segurança pública, saúde e educação, por exemplo. Quando formos decidir sobre disputar ou não o governo, temos que ter dois objetivos: proteger o Paraná das loucuras do PT e elevar nosso estado a um patamar de excelência”, completou.
Balanço do mandato
O senador avaliou de forma positiva sua atuação no primeiro mandato. Citou emendas de sua autoria e lembrou projetos de lei aprovados com sua participação.
“Mesmo na oposição, temos conseguido vitórias importantes, como quando barramos a recriação do DPVAT ou ao derrubar vetos presidenciais no marco temporal e no fim das saídas temporárias. Nesse último caso, uma emenda minha foi decisiva para destravar o projeto. Também atuamos na ampliação do banco de DNA de criminosos, na criminalização de massacres em escolas e em restrições a solturas em audiências de custódia. Além disso, convocamos o ministro da Previdência para explicar o escândalo de fraudes contra aposentados e pensionistas. Fui relator do projeto que virou a Lei 15.120/2025. No plano internacional, visitei Kyiv para prestar solidariedade ao presidente Zelensky e ao povo ucraniano contra a invasão russa”, relatou.
"Não me arrependo de ter deixado a magistratura"
Moro disse que encara a carreira política como uma nova fase e garantiu não se arrepender da decisão de deixar a toga após 22 anos.
“Fui juiz por 22 anos e tenho muito orgulho da história que escrevi no Judiciário. O caso mais conhecido é o da Lava Jato, mas também atuei no Banestado e condenei traficantes como Fernandinho Beira-Mar. Foi uma vida intensa. Decidi sair porque queria fazer algo diferente em Brasília. Não me arrependo, continuo trabalhando pelo país, só que em outra função. Tenho certeza de que fiz a escolha certa”, afirmou.
Críticas ao STF e defesa de Bolsonaro
O Senador pediu demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Na época ele alegou interferências políticas na Polícia Federal, deixou o governo 16 meses depois de ter assumido o ministério.
Para a GP, Moro disse que a prisão do ex-presidente Bolsonaro é desnecessária, também fez um comparativo com a prisão do ex-presidente Lula, e falou que o STF vem cometendo abusos.
“A prisão domiciliar do ex-presidente é desnecessária. Ele ainda responde ao processo, não foi julgado. No caso do ex-presidente Lula, só foi preso depois de julgado e ainda em segunda instância. E ele também vocaliza toda hora seu inconformismo em relação a atuação da Justiça, o que não é motivo suficiente para a decretação de uma preventiva ou de uma prisão domiciliar. Ainda mais com a proibição de falar, de dar entrevista, de se pronunciar nas redes sociais. Esse é um precedente muito perigoso, de proibir qualquer acusado de se manifestar livremente antes de ser julgado. Não tenho nenhuma relação direta hoje com o ex-presidente, mas me manifesto publicamente discordando com o tratamento que ele vem recebendo no STF. O Brasil está indo por águas que nunca navegamos, com abusos do STF”, comenta.
Política internacional
Moro também opinou sobre o aumento de tarifas imposto pelo governo norte-americano.
“Essa briga com os Estados Unidos não traz nenhuma vantagem ao Brasil. Essa questão das tarifas traz um grande impacto econômico, inclusive para indústrias do Paraná, como é o caso do setor madeireiro. O Brasil precisa manter alinhados tradicionais como os EUA, com democracias ocidentais. É preciso deixar a diplomacia trabalhar já que nem os EUA ganham com isso. Eles já reconheceram que esta tarifa prejudica alguns setores lá, como é o caso do suco de laranja, que os americanos têm uma dependência, e já houve diálogo com a Embraer, com produtos da aviação, que negociou e conseguiu chegar a um acordo. Então, tenho certeza que é possível construir uma saída dessa situação, mas tudo passa por um realinhamento geopolítico do Brasil. Não defendo uma interferência em nossa soberania, até porque o Brasil tem que proteger seus interesses com firmeza e diálogo”, declara.
Lava Jato e Dias Toffoli
O senador criticou a decisão do ministro Dias Toffoli que anulou atos da Lava Jato contra o doleiro Alberto Youssef.
“Essa decisão do Ministro Dias Toffoli foi mais uma anulação da Operação Lava Jato. O Brasil vive uma completa inversão de valores morais. Dessa vez, em relação ao doleiro Alberto Youssef, que confessou seus crimes e confessou que lavava dinheiro da Odebrecht e entregava a partidos e agentes políticos. Agora, ele posa de vítima e é premiado por uma justiça que a gente não compreende. O que entendo é que a impunidade voltou e a consequência disso vemos na volta da roubalheira. Tenho certeza que se não houvesse o desmantelamento da Lava Jato, eles não teriam coragem de roubar aposentados e pensionistas. Aliás, alguém foi preso ou será preso por esses crimes?”, finaliza.
Quem é Sergio Moro?
Sergio Moro nasceu em Maringá tem 53 anos, ex-juiz federal, professor e político, atualmente é senador pelo Paraná pelo União Brasil desde 2023. Formado em Direito pela Universidade Estadual de Maringá, concluiu mestrado e doutorado na UFPR, onde também lecionou Direito Processual Penal e se especializou em crimes financeiros. Ingressou na magistratura em 1996 e atuou em casos de grande repercussão, como o Banestado, Operação Farol da Colina e Mensalão. Ganhou notoriedade ao comandar, de 2014 a 2018, a Operação Lava Jato, que investigou corrupção envolvendo políticos e grandes empresas, incluindo a Petrobras e a Odebrecht.
Em 2018, Moro deixou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro, permanecendo até abril de 2020, quando pediu demissão alegando interferência política na Polícia Federal. Após atuar na iniciativa privada e como dirigente partidário, elegeu-se senador pelo Paraná em 2022.
Foto: Assessoria
