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Especialista explica se redução de impostos nos alimentos terá impacto no bolso

Enquanto consumidores esperam preços mais baixos, economistas destacam que o desequilíbrio fiscal e a alta demanda podem limitar os impactos da isenção.

Por Gabriel Porta Martins

Especialista explica se redução de impostos nos alimentos terá impacto no bolso Créditos: Reuters/Nacho Doce

O Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), aprovou a redução a zero das tarifas do imposto de importação de 11 alimentos. A medida, aprovada pelo Comitê Executivo de Gestão, entrou em vigor a partir de ontem (14).

A decisão, anunciada na quinta-feira (06) pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, de zerar o imposto de importação cobrado sobre uma série de alimentos, foi muito celebrada por representar um alívio potencial para os bolsos dos consumidores, castigados pela alta inflação, e por renovar a esperança de uma avaliação mais positiva do governo, que passa por desgaste. Mas será que a medida vai chegar de fato às gôndolas?

A Gazeta entrevistou o economista Rui São Pedro para analisar a medida do governo federal de isenção de impostos sobre alguns produtos alimentícios e seus impactos no bolso do consumidor. Segundo o especialista, a redução dos impostos certamente pode trazer benefícios ao consumidor, pois, ao eliminar o imposto sobre alguns produtos, o preço final fica mais acessível, permitindo que o consumidor compre mais. "De alguma forma, aumenta o poder de compra dele", disse Rui.

No entanto, Rui adverte que a atual conjuntura econômica, com estiagens e dificuldades na produção, pode limitar o efeito positivo da medida. "É a famosa lei da oferta e da procura, porque mesmo com a redução de impostos, se houver falta de produção devido a fatores climáticos ou outros problemas na cadeia de abastecimento, o preço dos produtos vai continuar alto", afirmou. A escassez de produtos, combinada com uma demanda constante, leva ao aumento dos preços. "Pela quantidade produzida não atender à quantidade de pessoas querendo comprar, com certeza o preço sobe".

Rui São Pedro explicou também a questão do preço dos produtos, especialmente quando há um aumento e a dificuldade para que os preços voltem a cair rapidamente. Segundo o economista, a redução dos preços, quando ocorre, ainda pode demorar para refletir no bolso do consumidor por diversos fatores. No caso dos produtos hortifrúti, a situação é mais sensível. "Os produtos hortifrúti-granjeiros, com as estiagens e o excesso de calor que tivemos recentemente, têm uma quantidade menor de produção". Ele ressaltou que, por conta disso, "a quantidade de produto que chega aos mercados é menor, o que eleva o preço", refletindo diretamente no bolso do consumidor. "O aumento do preço é um reflexo imediato da menor quantidade produzida", destacou o economista.

Além disso, ele lembrou que o tempo de produção dos produtos agrícolas é outro fator importante. "Para plantar esses produtos, leva um certo período de tempo para que estejam prontos para chegar à mesa do consumidor", explicou. Esse tempo de espera é fundamental para que os preços voltem a cair. "Para o preço voltar a ser mais acessível, o consumidor precisa esperar a próxima produção, para que a oferta aumente e atenda à demanda".

O economista também observou que isso não se aplica apenas aos hortifrúti, mas a todos os produtos que dependem de matérias-primas. "Esses insumos sobem de forma imediata, em função da procura, e demoram um tempo para que a queda no preço da matéria-prima se reflita nos preços para o consumidor".

Ele ainda apontou que, em alguns casos, a queda de preços pode acontecer mais rapidamente. "Se estamos perto da nova colheita ou produção, isso pode refletir de forma positiva e mais rápida nos preços", comentou.

A Gazeta também questionou o economista sobre a crítica feita pela bancada do agro a essa medida do governo federal. Lembrando que a bancada do agro argumentou que o verdadeiro problema da inflação não está na oferta de alimentos, mas sim no desequilíbrio fiscal do governo, que tem gerado custos elevados e pressionado a inflação. Rui São Pedro concorda com essa visão e explicou que o desequilíbrio fiscal é uma das principais causas do aumento da inflação. "O governo está gastando mais do que arrecada, o que exige que ele pague juros, o que onera a União e limita os recursos disponíveis para investimentos em infraestrutura". Ele ainda acrescentou que, em virtude disso, o governo fica sem recursos suficientes para investir em áreas que poderiam ajudar a reduzir a inflação e equilibrar a economia.

Outro ponto levantado por Rui São Pedro foi o impacto da carga tributária no processo inflacionário. "A carga tributária também é responsável por esse aumento da inflação. O governo reduziu a taxa Selic, mas agora precisa aumentá-la novamente para tentar controlar a inflação e frear o consumo excessivo", comentou. Ele acredita que o ano de 2025 será um ano de muitos desafios econômicos, com uma retração no consumo devido à perda de poder de compra. "Os consumidores vão retrair seus consumos, porque há uma perda considerável do poder de compra do consumidor", alertou.

O economista apontou, ainda, que o governo precisa ser mais prudente com suas previsões de arrecadação e gastos. "O governo precisa usufruir daquilo que ganha e não fazer gastos com base em projeções de consumo que podem não se concretizar", disse.

Desaprovação do Lula

O preço dos alimentos, que permanece em patamares elevados, tem sido um dos principais fatores que impactam negativamente a popularidade do presidente Lula, segundo especialistas. Uma pesquisa divulgada na quinta-feira (13) pelo instituto Ipsos-Ipec revelou que 55% dos brasileiros desaprovam a gestão do presidente Lula (PT), um aumento de 9 pontos percentuais em comparação a setembro. A aprovação do governo caiu para 40%, uma redução de 7 pontos, enquanto 4% dos entrevistados não souberam ou não responderam.  

O levantamento, que ouviu 2.000 brasileiros entre os dias 7 e 11 de março, com margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, mostrou ainda que 41% avaliam o governo como ruim ou péssimo, um crescimento de 7 pontos em relação a setembro. Por outro lado, 27% consideram o governo ótimo ou bom, registrando uma queda de 7 pontos. A avaliação regular permaneceu estável em 30%, e 1% não soube ou não respondeu.  

Em relação à confiança no presidente, os dados indicam que 58% dos brasileiros afirmam não confiar em Lula, enquanto 40% disseram confiar. A pesquisa também mostrou que 2% não souberam ou não responderam a essa pergunta. Esses números refletem um cenário de desgaste para o governo, que enfrenta desafios para recuperar a confiança e a aprovação da população em meio a pressões econômicas, como a alta dos preços dos alimentos e a inflação.