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Do pé da araucária ao prato: o pinhão como elo entre cultura e memória

Professora aposentada Clara Dias compartilha receita de farofa de pinhão cujos ingredientes unem sociobiodiversidade e lembranças de infância

Por Da Redação

Do pé da araucária ao prato: o pinhão como elo entre cultura e memória Créditos: Flávio Dutra/JU

*Com informações do Jornal da UFRGS

 

A gente nem sempre percebe, mas há alimentos que carregam mais do que nutrientes. Eles guardam histórias, encontros, cheiros e afetos. Foi assim que nasceu a receita da Farofa de Pinhão, criada por Clara Dias, aluna do curso de especialização em Gastronomia Cultural, do Polo de Porto Alegre, nascida em Maquiné (RS) — uma cidade abraçada pela Reserva da Biosfera da Mata Atlântica — e hoje moradora do Balneário Gaivota, no extremo sul de Santa Catarina.

Clara é professora por vocação, mas aceitou o chamado do coração para estudar Gastronomia Cultural. Hoje, aposentada, atua como facilitadora de Círculos de Construção de Paz e encontrou na culinária uma forma de continuar cuidando das pessoas. Para ela, preparar uma receita é também cultivar vínculos com o passado e com a terra. “O pinhão representa uma memória viva da minha infância. É um ingrediente que fala de afeto, de encontros, de pertencimento”, conta.

Mas o pinhão é mais do que lembrança. Ele é um alimento da sociobiodiversidade brasileira — semente da araucária, árvore nativa da Floresta com Araucária, símbolo do sul do país. A Mata com Araucária é um dos ecossistemas da Mata Atlântica que ocorre em áreas de altitude no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. 

Utilizá-lo na alimentação cotidiana – especialmente agora, em plena safra – é também um gesto de valorização cultural. “Ao unir o pinhão com a farinha de mandioca, que nunca faltava na nossa mesa, eu trouxe o conforto de uma comida simples, mas cheia de sentido”, completa Clara.

 

Farofa de Pinhão

  • ½ xícara de cebola roxa picada (20g)
  • ½ xícara de tomate picado (20g)
  • 1 xícara de farinha de mandioca (150g)
  • 10 unidades de pinhão inteiro (80g)
  • ½ xícara de pinhão picado (80g)
  • ½ xícara de castanha de caju (25g)
  • ½ xícara de milho salgado (17g)
  • 2 dentes pequenos de alho (2g)
  • 1 colher de sopa de salsa picada
  • sal e pimenta-do-reino a gosto
  1. Cozinhe os pinhões com sal por cerca de 45 minutos após pegar pressão. Reserve.
  2. Descasque os pinhões: separe 10 inteiros e fatie o restante.
  3. Toste a farinha de mandioca em uma frigideira. Reserve.
  4. Refogue a cebola, o alho e o tomate com um fio de óleo. Adicione os pinhões inteiros e picados.
  5. Quando tudo estiver levemente dourado, adicione a farinha, o milho tostado e a castanha de caju. Misture bem.
  6. Desligue o fogo, finalize com salsa e ajuste os temperos.

Essa farofa é uma celebração da cultura alimentar do Sul e dos laços que o alimento constrói. É memória que vira prato, tradição que vira afeto. E, como Clara nos mostra, é também uma forma de manter viva a relação com a natureza — de onde tudo começa.