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Crise leiteira: Congresso aprova crédito extraordinário de R$ 100 milhões para compra de leite

Após encontro com o presidente Lula em Foz do Iguaçu, reivindicação dos produtores é atendida

Por Eliane Alexandrino

Crise leiteira: Congresso aprova crédito extraordinário de R$ 100 milhões para compra de leite Créditos: Assessoria

A Gazeta do Paraná acompanha há meses a crise leiteira que afeta produtores do Estado. Ao longo do ano, manifestações foram realizadas em diversas cidades das regiões Sudoeste, Centro-Sul e Oeste do Paraná. A crise tem provocado perdas significativas, sobretudo na agricultura familiar, responsável por mais de metade da produção nacional de leite.

O cenário é agravado pelo avanço das importações em 2023 e 2025, pela queda acentuada do preço pago ao produtor e pelo uso crescente de compostos lácteos ultraprocessados pela indústria. Esses fatores reduziram drasticamente a competitividade das pequenas propriedades.

Na sexta-feira passada (19), durante a inauguração da Ponte da Integração, em Foz do Iguaçu, produtores entregaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma carta com reivindicações emergenciais. O documento foi apresentado por um grupo de parlamentares federais ligados ao governo, em articulação conduzida pela ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, a pedido da deputada estadual Luciana Rafagnin (PT).

A carta, assinada por Pedro Ivo Ilkiv, representante dos produtores de leite do Paraná, detalha a situação crítica do setor. Em novembro de 2025, o preço pago ao produtor caiu para R$ 1,60 por litro, enquanto o custo médio de produção é estimado em R$ 2,40. O prejuízo de quase R$ 0,80 por litro inviabiliza milhares de propriedades, especialmente da agricultura familiar, responsável por cerca de 53% da produção nacional.

Segundo Luciana Rafagnin, após a apresentação do documento, o presidente Lula se comprometeu a analisar os pleitos. A ministra Gleisi Hoffmann afirmou que o governo demonstrou preocupação com o setor e anunciou a aprovação, no Congresso Nacional, de um crédito extraordinário de R$ 100 milhões para a compra de leite de cooperativas da agricultura familiar.

“O governo Lula tem disposição para atender às demandas do setor. Esse crédito extraordinário permitirá a compra de leite das cooperativas do Paraná, das cooperativas ligadas ao MST e da agricultura familiar. Além disso, o presidente se comprometeu a discutir temas como renegociação de dívidas, importações de leite da Argentina e do Uruguai e barreiras sanitárias”, afirmou a ministra.

De acordo com os produtores, o agravamento da crise decorre, em grande parte, da entrada massiva de produtos lácteos da Argentina e do Uruguai. Com a desaceleração da economia chinesa, esses países redirecionaram seus estoques para o Brasil, praticando preços inferiores aos de seus mercados internos, o que caracteriza dumping. Atualmente, o volume importado corresponde a cerca de 10% da produção nacional historicamente, esse percentual girava em torno de 5%.

A carta também alerta para a entrada descontrolada de composto lácteo, produto que contém apenas 51% de leite, sendo o restante formado por óleos vegetais, gordura trans e aditivos. Mais barato que o leite in natura, o composto tem sido amplamente utilizado pela indústria, substituindo a matéria-prima nacional e ampliando os prejuízos aos produtores.

“O Brasil tem aproximadamente um milhão de produtores de leite. Apenas no Rio Grande do Sul, entre 2018 e 2023, 44 mil pequenos produtores abandonaram a atividade. Precisamos de ação imediata para evitar uma quebradeira generalizada e riscos à segurança alimentar”, alertou Pedro Ivo Ilkiv.

O deputado federal Elton Welter (PT-PR), que participou da entrega da carta ao presidente, afirmou que vinha alertando o governo sobre os riscos da falta de regulação. Segundo ele, sem medidas rápidas, dezenas de municípios podem perder uma de suas principais bases econômicas.

Welter destacou que o governo federal autorizou a compra de leite em pó da indústria nacional para reduzir o excesso de oferta, especialmente na região Sul, onde a produção cresceu mais de 10% de um ano para outro. “Também há concorrência desleal com o leite importado do Mercosul. O presidente Lula está sensível ao tema e se comprometeu a realizar uma reunião ainda este ano. Estou solidário aos produtores para garantir ações efetivas em toda a cadeia”, afirmou.

A carta entregue ao presidente pede medidas imediatas para recompor preços, ordenar o fluxo de importações e evitar o abandono da atividade. Para os produtores, a atuação firme do governo federal é decisiva para preservar renda, evitar endividamento irreversível e garantir a permanência das famílias no campo.

 Controle das importações

Entre as principais reivindicações estão compras públicas de leite e derivados da agricultura familiar por meio da Conab, via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); maior controle das importações pelo Ministério da Agricultura; intensificação da fiscalização nas fronteiras; e a criação de um programa nacional de securitização das dívidas, com parcelamento em até 20 anos, dois anos de carência e juros reduzidos.

Para o médio prazo, o documento propõe a criação de um Instituto Nacional do Leite, inspirado no modelo uruguaio, com a participação de produtores, indústrias, consumidores e órgãos de pesquisa. O objetivo é planejar a cadeia produtiva, regular o mercado, padronizar a rotulagem e permitir que o Brasil reduza importações e avance para um perfil exportador.

Os signatários ressaltam que o leite é estratégico para a segurança alimentar e para a subsistência de milhões de famílias brasileiras, defendendo a combinação de medidas emergenciais e planejamento institucional para evitar perdas permanentes na cadeia produtiva.

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Foto: Assessoria

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