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Coaf registra oito vezes mais operações suspeitas do que em 2015, diz estudo

A pesquisa aponta que a alta no registro de operações suspeitas no Coaf na última década impulsionou, também, um crescimento na produção dos RIF pelo órgão.

Por Da Redação

Coaf registra oito vezes mais operações suspeitas do que em 2015, diz estudo Créditos: COAF/Divulgação

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) recebeu, no ano passado, oito vezes mais comunicações de operações financeiras suspeitas do que em 2015. Os registros de COS (Operações Consideradas Suspeitas) levadas ao órgão, que foram de 296 mil naquele ano, saltaram para mais de 2,56 milhões em 2024, um aumento de 766%.

Os dados foram obtidos pelo estudo do Instituto Esfera de Estudos e Inovação, frente acadêmica do think tank Esfera Brasil, realizado em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e apresentado na manhã desta quarta-feira (25/6) na sede do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), em Brasília.

A pesquisa aponta que a alta no registro de operações suspeitas no Coaf na última década impulsionou, também, um crescimento na produção dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) pelo órgão. De 4,3 mil relatórios produzidos em 2015, a cifra subiu mais de quatro vezes e alcançou 18,7 mil no ano passado, um aumento de 335,9%.

Segundo os autores do estudo, os números mostram uma crescente demanda no Coaf, enquanto a estrutura institucional não acompanhou o avanço das ameaças. Foram reportados quadro de pessoal limitado, sem carreira delimitada e com lacunas de tecnologia para resolver as demandas 

Além disso, o relatório apontou novos desafios no combate do crime organizado com a chegada das apostas on-line, conhecidas como bets, criptoativos e fintechs. Esses três meios têm sido utilizados, conforme a pesquisa, por organizações criminosas para lavar dinheiro.

Segundo o estudo, os criptoativos estão servindo para ocultar patrimônio e realizar transferências internacionais com anonimato e agilidade. Já as fintechs foram usadas para que instituições financeiras operassem sem autorização do Banco Central.

Bets

As apostas on-line estão sendo encaradas com grande preocupação. No estudo, foi relatado o uso das bets como canal paralelo dos recursos ilícitos de organizações criminosas. Dessa forma, os repasses ficam mais difíceis de serem rastreados por autoridades.

Presidente da Federação Brasileira de Bancos, Isaac Sidney, no lançamento da pesquisa no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, reforçou a necessidade do Estado e setor privado agirem “com muita firmeza para não permitir que o crime organizado se sinta encorajado para ampliar seus tentáculos” pelo uso das bets.

“A gente vê um bombardeio de publicidade, temos que verificar os efeitos sociais e econômicos. Temos um mundo legalizado das bets, foi escolha Legislativa, temos que respeitar, mas sabemos que existem dezenas de empresas nas sombras para ganhar em cima de pessoas mais vulneráveis”, afirmou.

“O poder do crime organizado não se dá mais por armamentos. Temos hoje uma penetração do crime organizado nas estruturas do Estado, corrompendo estruturas financeiras. O crime aprendeu a funcionar como empresa”, apontou Bruno Dantas, ministro do Tribunal de Contas da União.

Já Paulo Gonet, procurador-geral da República, apontou a importância de impedir o uso de canais financeiros pelo crime organizado. “Uma das formas mais eficazes para combater é pelo financeiro das instituições, travando o capital”, afirmou. “Para isso, contamos com esses mecanismos de inteligência financeira, que é um instrumento fantástico, o Coaf”, completou.

Rio de Janeiro

O decano do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, relembrou a ADPF das Favelas. “O Brasil tem que urgentemente retomar o controle do seu território, com urbanização racional para o exercício de jurisdição, de modo a garantir a efetividade dos direitos. Essa ADPF partia da ideia de que se precisava controlar as ações policias nas áreas ocupadas. O verdadeiro estado de coisa inconstitucional é a ocupação de territórios por essas organizações e isso precisa ser dito de maneira muito clara”.

Gilmar falou ainda da relevância do trabalho unificado. “A ação coordenada do Coaf, policias, Receita Federal, Judiciário, é essencial e precisa ser aprofundada”.

“É fundamental que haja coordenação entre as diversas instituições que tem como objetivo também o combate ao crime e a criminalidade organizada”, seguiu. “Não se combate o crime, cometendo crime”.

Com informações: Conjur

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