Cascavel: 5 clínicas foram autuadas por fazer uso de substância proibida em procedimentos estéticos
A Gazeta do Paraná também conversou com uma profissional que alerta sobre os riscos, além da importância de procurar profissionais qualificados e estabelecimentos licenciados que prestam os serviços

Eliane Alexandrino/Cascavel
A Vigilância Sanitária de Cascavel apurou que ao menos 5 clínicas da cidade estariam fazendo uso de substância irregular sem registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em procedimentos estéticos voltados para aplicação de botox. Os casos foram encaminhados para a Delegacia Civil. Os números de ambientes que tem feito procedimentos com produtos irregulares só aumentou. No ano passado 3 clínicas foram autuadas e em 2023, uma.
O alerta é para o produto de origem israelense “Isarderm”, de acordo com a Resolução RE nº 2403, desde 2021 a Anvisa proibiu a comercialização, distribuição, propaganda, formulação ou uso do produto no Brasil
De acordo com estudos, o produto pode causar riscos à saúde pública, como intoxicações, infecções e até necrose da pele nos locais de aplicação. Os estudos mostram ainda que se trata de um produto sem informações claras ou dados confiáveis. Não existe bula ou um guia profissional a respeito dele, o que pode aumentar o risco de complicações imprevisíveis pela migração da substância no corpo humano ou mesmo o risco de resultados em áreas indesejadas.
Para a cirurgiã dentista especialista em implantodontia e em harmonização orofacial com ênfase em cirurgias faciais, Patrícia Bebber, a orientação é clara, procurar profissionais não apenas qualificados, mas ter informações do local a onde o paciente fará o procedimento.
“Não basta procurar profissionais qualificados; é fundamental verificar se a clínica está regulamentada, se o ambiente segue as normas e se os produtos utilizados são adquiridos de forma legal. Em Cascavel estamos próximos do Paraguai, e muitos recorrem a marcas paraguaias, coreanas ou chinesas, que não são autorizadas no Brasil. Isso gera um risco enorme, porque qualquer intercorrência ocorre sem respaldo legal. Aplicar substâncias não liberadas pela Anvisa é crime”, ressalta.
Caso da paciente com rosto deformado
Em fevereiro deste ano, o Ministério Público do Paraná (MPPR) denunciou uma médica e um farmacêutico após uma paciente ter o rosto deformado em um procedimento estético realizado em Cascavel. A denúncia foi apresentada pela 9ª Promotoria de Justiça e aponta que os réus responderão por crimes de lesão corporal, estelionato e exercício ilegal da medicina, no caso do farmacêutico.
A paciente contratou os serviços da clínica que o casal em 2023 para fazer aplicação de um bioestimulador de colágeno denominado Sculptra (ácido poli-L-lático), mas no rosto da mulher foi aplicada a substância diferente: PMMA (polimetilmetacrilato), um preenchedor permanente, não indicado para realização de procedimentos estéticos faciais devido o alto risco de complicações irreversíveis, e o material não é recomendado pela Anvisa para essa finalidade estética.
O MPPR aponta que na denúncia os réus obtiveram vantagem ilícita, cobrando da paciente por um procedimento com um produto de alto valor de mercado, e utilizando um produto mais barato e com efeitos distintos do contratado. A ação tramita na 1ª Vara Criminal de Cascavel.
Segundo Bebber, qualquer cirurgião dentista com formação e especializações em harmonização facial e cirurgião bucomaxilo, pode realizar determinados procedimentos que se encontram no edital do CFO (Conselho Federal de Odontologia). Atualmente já é possível fazer a desarmonização facial, desde que o paciente não tenha recebido o PMMA.
“O PMMA não é removível, ele só se torna removível se remover tecidos juntamente. Agora as harmonizações faciais são feitas através dos injetores com ácido hialurônico, este pode ser removido com enzima, de material muito fácil e seguro ao paciente. A não ser que o paciente tenha alergia a enzima, daí nesses casos temos que trabalhar cirurgicamente também”, explica.
Orientação à população
A orientação da Vigilância é que, antes de realizar qualquer procedimento de botox, o paciente solicite a conferência da embalagem do medicamento a ser aplicado. Caso identifique o nome “Israderm”, deve recusar imediatamente o procedimento e acionar a Vigilância Sanitária pelos telefones (45) 3392-6540 ou (45) 3392-6541 (WhatsApp), que enviará uma equipe para verificar a denúncia.
A Secretaria de Saúde reforça que a atuação do município tem como prioridade proteger a população e garantir que os procedimentos estéticos sigam as normas de segurança exigidas pela Anvisa.
Foto: Eliane Alexandrino
