Advogado diz que ex-assessora cumpria ordens do deputado Ricardo Arruda para receber propina e entregá-la ao parlamentar
Por Giuliano Saito
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Segundo defesa, Débora de Azevedo foi quem denunciou irregularidades ao MP. Deputado foi denunciado, junto a Débora e outros dois ex-assessores, por tráfico de influência, associação criminosa e peculato. Arruda nega acusações. Deputado estadual Ricardo Arruda (PL) Dálie Felberg/Alep o , o advogado de defesa de Ricardo Arruda, afirmou que O advogado de Débora de Azevedo, ex-assessora que trabalhou para o deputado estadual Ricardo Arruda (PL), afirmou que ela cumpria ordens do parlamentar para receber propina e repassá-la ao deputado. Segundo o Ministério Público do Paraná (MP-PR), os valores recebidos, com anuência de Arruda, eram para que o deputado tentasse viabilizar favores irregulares junto ao Governo do Estado e ao Poder Judiciário. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Arruda, Débora, e outros dois ex-assessores, Fernando Aparecido Julião e Fabio Abel Manfrin Nonato, foram denunciados pelo MP-PR por tráfico de influência, associação criminosa e peculato. O deputado nega ter cometido crimes, acusa os ex-assessores e diz estar sendo perseguido pelo MP-PR. O MP se refere a pelo menos seis crimes cometidos por eles entre 2016 e 2017, de acordo com a investigação. O documento cita valores recebidos pelos denunciados que, somados, chegam a quase meio milhão de reais. A denúncia contra Arruda e demais envolvidos é de 2020. O caso estava sob sigilo, mas recentemente se tornou público. Navegue nesta reportagem: O que diz a defesa da ex-assessora Débora de Azevedo O que diz o ex-assessor Fernando Aparecido Julião O que Ricardo Arruda diz das acusações O que diz a defesa de Ricardo Arruda Como funcionava o esquema, segundo o MP Crimes de tráfico de influência, segundo o MP Crime de peculato, segundo o MP O que diz o PL Onde tramita o processo O que dizem os órgãos citados Ex-assessores de Ricardo Arruda falam sobre as acusações contra o deputado Defesa de ex-assessora diz que ela cumpria ordens Segundo o advogado Jefferson Silva, Débora participava do esquema cumprindo ordens de Ricardo Arruda. Ele contou que foi a ex-assessora quem denunciou o caso ao MP, e por ter colaborado com as investigações, pode receber perdão judicial. Desde que o caso veio à tona, na terça (14), a ex-assessora foi a mais citada por Ricardo Arruda como responsável pelos crimes. Em coletiva nesta quarta (15), o parlamentar voltou a acusá-la. Leia mais abaixo. “Na verdade, o que foi passado e consta na denúncia, é que os pagamentos eram feitos para os seus assessores e esses levavam até ele [Arruda], mas apenas levavam cumprindo a sua ordem. Ela chegou sim a receber cem valores, consta no processo que uma vez ela pegou certa quantia no Parque Barigui, mas a única coisa que ela fazia, ela pegava e entregava na mão do deputado”, disse o advogado Jefferson Silva. O advogado de Débora também disse que ex-assessora entregou aos promotores à frente do caso, troca de mensagens que, segundo a denúncia, são provas de pagamentos pelo tráfico de influência de Arruda. “Ela entregou as conversas pessoais, onde as pessoas que precisam de favores ou resolver seus problemas, estavam conversando com ela. 'Eu tenho tal problema', 'Ah, você pode conversar com o deputado'. E durante o decorrer desses atos, a conversa deles demonstra 'Ó, tá tá dando certo... não está''...”. Ainda segundo o advogado de Débora, as propinas eram negociadas diretamente com o deputado. Afirmou, ainda, que a cliente também entregou provas disso. “Além dessas conversas, [entregou o] nome de todas as testemunhas que poderiam comprovar, e na denúncia vocês vão ver foram comprovados por essas testemunhas.”. Na denúncia, o MP também cita gravações de conversas, registros de entrada e saída da Alep, e as oitivas de testemunhas. Demais denunciados Outro denunciado pelo Ministério Público, o ex-assessor Fernando Julião, disse em entrevista nesta quarta-feira (15) que não participou de pagamentos ou negociações irregulares. “Nunca participei de absolutamente nada. Eu nem conheço Débora. Nem sei quem é Débora. Nunca tive contato com a Débora. Eu vim aqui hoje porque eu fiquei chateado porque eu tenho o nome. Nunca tive nenhum problema com a Justiça, nada.". Fernando Aparecido Julião, denunciado no esquema, diz que não conhecia ex-assessores envolvidos RPC Julião também afirmou que foi contratado depois que os outros dois denunciados não estavam mais no gabinete. “Quando o deputado começou a falar 'para mim' ter reuniões com policiais militares, eu falei 'Não quero. Porque você já teve um problema no passado, com Débora e Fabio, que eu não conheço e eu entrei depois [...] E eu entrei depois, pelo o que eu entendi, para tentar apagar o incêndio, porque eu sou muito bem relacionado com todo mundo.” A RPC não teve retorno da defesa de Fabio Nonato, outro ex-assessor denunciado, para comentar o caso. Arruda se defendeu em plenário Nesta quarta-feira (15), durante sessão plenária da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Arruda utilizou a tribuna para se defender sobre o caso. Ele está no terceiro mandato consecutivo. Em coletiva, após a sessão, o deputado disse que os crimes dos quais é acusado foram cometidos pelos ex-assessores, citando de maneira mais enfática a ex-assessora Débora, também denunciada pelo MP. Ele disse que a desligou do cargo tão logo descobriu as irregularidades. "Demiti ela imediatamente e fiz um boletim de ocorrência. E aí a advogada dela me procurou e falou 'o senhor pode manter ela mais um ou dois meses?' e eu falei 'nem mais um dia'. Ela é criminosa. Ela foi tentar fazer um esquema com prefeito em meu nome [...] Aí ela vai lá, uma criminosa, faz uma denúncia no MP, o MP prefere ouvir uma criminosa do que um parlamentar [...] Esse, infelizmente, é o lado podre do Ministério Público. Como faz denúncia crime? Baseado no que? Vai ouvir esse tipo de gente? E agora vaza isso aí pra imprensa?.". Ricardo Arruda foi reeleito em 2022, com 68.731 votos. Arruda está no terceiro mandato na Alep RPC Até esta quarta (15), a Alep não tinha se manifestado se abriria algum tipo de investigação sobre o caso. Segundo a presidência da Casa de Leis, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia ainda não está formado. Em entrevista à RPC, na terça (14), Arruda disse que o MP-PR não tem "nenhuma prova real" contra ele. "Com todo respeito ao MP, essa denúncia deles pra mim não vale absolutamente nada. Denúncia infundada. Não foi comigo, foram com assessores meus. Eu, no primeiro mandato, montei o gabinete com indicações e infelizmente errei nas contratações, peguei pessoas criminosas e não são assessores. Foram exoneradas imediatamente, foi feito boletim de ocorrência contra elas e feito um processo contra elas", disse o parlamentar. Na biografia de Arruda, disponível no site da Alep e escrita pela equipe do parlamentar, o deputado é apresentado como conservador, de direita, que tem entre as prioridades “o combate à corrupção". O que diz a defesa de Arruda À RPC, nesta quarta (15), o advogado de defesa de Ricardo Arruda afirmou que o deputado não sabia do esquema do qual é acusado. "Isso é falso. O MP inclusive já está calejado, de fatos como esse. É comum ex-assessores, esse é o modus operandi de muitos, que foram exonerados, procurarem por vingança, criar um fato falso, mentiroso, para acusar indevidamente o parlamentar. No presente caso, nós temos a exoneração de uma ex-assessora que utilizou indevidamente o nome do deputado", disse Jeffey Chiquini. Ainda de acordo com o advogado Jeffey Chiquini, Arruda procurou o MP-PR sobre o caso, além de registrar boletim de ocorrência contra Débora. "Foi acusada por isso e de forma indevida, de forma infantil e criminosa, tentou incluir o deputado nisso. Mas está claro no processo, temos transparência em deixar público a sociedade, que o deputado não tem qualquer participação. Deixaremos esse caso nas mãos da Justiça paranaense e estamos apresentando todas as provas que temos à disposição. E claro ficará que o deputado foi vítima de armação de criminosos", disse o advogado Chiquini. Como funcionava o esquema, segundo o MP Segundo a denúncia do MP-PR, Arruda e os então assessores “se associaram de forma voluntária e consciente com o propósito específico de cometerem crimes”. O documento diz que Arruda "atuava com seu prestígio de deputado estadual, passando credibilidade e segurança aos serviços ilícitos oferecidos pelo gabinete parlamentar", ao mesmo tempo em que os assessores denunciados "faziam os contatos, angariavam pessoas que almejavam algum benefício junto a administração público estadual ou mesmo junto ao Poder Judiciário", prometendo a elas influência do deputado. O MP também diz que os ex-assessores "por diversas vezes receberam os valores solicitados, tudo com pleno conhecimento, assentimento e comando do referido parlamentar". Tráfico de influência Sobre o crime de tráfico de influência, uma das irregularidades citadas pelo MP-PR ocorreu em outubro 2016, quando o parlamentar e os assessores receberam cerca de R$ 100 mil para ajudar um empresário do ramo de exportação a conseguir o recebimento de valores pendentes em contratos em aberto com o Governo do Estado. O documento não cita se o deputado conseguiu cumprir o pedido. No mesmo ano, em dezembro, o MP diz que o parlamentar cobrou e recebeu R$ 80 mil para ajudar a reintegração de ex-policiais militares junto à corporação, de acordo com a denúncia. O documento diz que, segundo testemunhas, os PMs foram reintegrados. Em 2017, o órgão cita três casos similares, também de tráfico de influência: Fevereiro de 2017: recebimento de R$ 80 mil para ajudar policial a promover carreira e interferência para evitar a expulsão do mesmo por investigação de tortura; o documento não informa se a interferência teve sucesso; Março de 2017: recebimento de R$ 110 mil para ajudar a reintegrar policial expulso da PM; ao MP, a então assessora disse que eles não conseguiram reintegrar o PM; Segundo semestre de 2017: recebimento de R$ 65 mil para viabilizar habeas corpus em favor de PM preso; segundo o documento, eles não conseguiram soltar o policial. De acordo com o MP, os pagamentos dos casos citados na denúncia ocorreram no gabinete do parlamentar, dentro das dependências da Alep; na área externa à Assembleia; e no Parque Barigui, em Curitiba. Peculato Na denúncia do MP-PR, o órgão diz que Arruda e os assessores também cometeram o crime de peculato, que é o desvio do dinheiro público. As irregularidades foram em outubro e dezembro de 2016, e fevereiro e março de 2017, segundo o documento. De acordo com o MP-PR, o grupo desviou dinheiro do ressarcimento da Alep por cinco vezes, no valor de R$ 17.635, para pagar pessoas que prestavam serviços de interesse pessoal do deputado, mas que não eram servidores. Deputado foi afastado do diretório municipal do PL Nesta quarta-feira (15), o Partido Liberal confirmou ter afastado o deputado da presidência do diretório municipal do PL em Curitiba. Além do afastamento, o partido informou que abriu um processo no conselho de ética do PL para apurar o caso. Depois que o caso for analisado, o conselho pode decidir pela expulsão, ou não, do parlamentar da sigla. A defesa de Arruda disse que ainda não foi comunicada formalmente da decisão do partido de afastar o deputado do diretório. Tramitação O processo contra Ricardo Arruda tramita no Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), uma vez que o deputado tem foro privilegiado. Até esta quarta-feira (15), a denúncia não tinha sido apreciada. O que dizem os órgãos citados A Alep disse que não foi informada oficialmente sobre a investigação contra Arruda. O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) disse que não pode se pronunciar sobre casos que estão em julgamento no próprio órgão. A defesa do deputado federal Beto Richa (PSDB), que na época era governador do Paraná, disse que Arruda não exerceu interferência no governo. A Polícia Militar não respondeu os questionamentos da RPC. Vídeos mais assistidos do g1 PR: Veja mais notícias do estado em g1 Paraná.
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