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'A violência não pode ser vista como normal no mundo' diz prefeito Rafael Greca sobre morte de adolescente em abordagem da GM de Curitiba

Por Giuliano Saito


Rapaz tinha 17 anos. Câmeras nas fardas estavam desligadas, e Corregedoria da GM informou que vai apurar o motivo dos equipamentos estarem inoperantes. Na manhã desta quarta-feira (29), o prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PSD), falou que a prefeitura abrirá uma sindicância para apurar os fatos sobre as câmeras corporais dos guardas municipais envolvidos na abordagem que terminou na morte do adolescente Caio José Ferreira de Souza Lemes, de 17 anos, que estavam desligadas. "Todas as cidades, infelizmente, todos os dias têm sido golpeadas pela violência. A violência está no mundo, mas a violência não pode ser vista como normal no mundo", disse. O caso aconteceu no último sábado (25), na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Caio foi baleado e morreu no local. No Boletim de Ocorrência (B.O.), que a RPC teve acesso, os guardas afirmam que o adolescente teria tirado do boné uma faca de 25 centímetros após supostamente fugir da abordagem. O agente que disparou disse que se sentiu e ameaçado e por isso teria decidido atirar. Garoto de 17 anos estava no 3º ano do Ensino Médio Acervo pessoal Como funciona Um decreto de outubro do ano passado autoriza a implantação do sistema de vídeo e áudio nas viaturas da Guarda Municipal de Curitiba, além do registro das ações de cada agente por meio das câmeras corporais. Segundo o decreto, as imagens gravadas deverão ser armazenadas por um ano. Segundo o Portal de Transparência da prefeitura, o custo com o serviço é de quase R$ 9,5 milhões pelo período de 12 meses. A empresa contratada é o Instituto Curitiba de Informática. O contrato prevê o fornecimento de 515 câmeras corporais e 160 nas viaturas da GM. As câmeras, conforme o contrato, devem gravar de forma ininterrupta, no mínimo, por 12 horas. Em nota, a Prefeitura de Curitiba disse que "os guardas receberam treinamento para usar as câmeras" e que o valor pago à empresa é "proporcional". Investigação A prefeitura informou que a Corregedoria da Guarda Municipal vai investigar o motivo dos equipamentos estarem desligados. Conforme a prefeitura, a orientação é que a câmera corporal, que fica acoplada à farda do GM, seja ligada no início da ocorrência e só deve ser desligada quando ela termina. As imagens poderiam ajudar a Polícia Civil a entender o que aconteceu. Um inquérito foi aberto para investigar a morte do adolescente. O que dizem os guardas municipais De acordo com o B.O., os agentes explicam que "faziam patrulhamento preventivo quando foram informados por um motorista de que havia pessoas na região suspeitas de tráfico de drogas". O documento aponta que os guardas foram ao local e viram "quatro pessoas com as características citadas pelo denunciante". Segundo os guardas, Caio era um dos integrantes do grupo e teria fugido. Os agentes descrevem no B.O. que perseguiram o adolescente com a viatura e a pé. O GM que estava no carro cercou a vítima, que teria feito movimento indicando que iria se deitar. Foi o momento em que, segundo a versão dos guardas, Caio teria sacado a faca. Protesto Na manhã desta terça-feira (29), familiares e amigos de Caio protestaram na rua onde ele foi morto. Com cartazes e balões pretos para simbolizar o luto, o grupo pediu justiça. "Eu quero saber como é o treinamento. Essa abordagem foi completamente infeliz e absurda. Abordaram o meu filho, bateram e deram um tiro na cabeça dele. Nunca mais vou ver ele", disse Lilian Ferreira, mãe do adolescente. Familiares e amigos protestaram contra morte de Caio Lemes durante abordagem da GM Reprodução/RPC O pai de Caio, Claudio Lemes, disse que o filho vivia pelo bairro com os amigos da escola, soltando pipa, cortando o cabelo e conversando com os colegas. O secretário de Defesa Social e Trânsito de Curitiba, Péricles de Matos, informou que vai apurar "com rigor" o caso "para dar uma satisfação à família do adolescente e também para a comunidade". Segundo a Guarda Municipal, os agentes envolvidos foram afastados de serviços operacionais. Mais assistidos do g1 PR Leia mais em g1 Paraná.