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Guarda presente em abordagem que terminou na morte de adolescente em Curitiba diz que jovem não era alvo de revista e que faca foi colocada no local

Por Giuliano Saito


Caio Lemes, 17 anos, morreu com tiro na cabeça na Cidade Industrial de Curitiba. Em boletim de ocorrência, guardas citam que adolescente fazia parte de grupo que estava sendo revistado e teria fugido. Caso Caio Lemes: guarda diz que jovem não atacou a equipe O guarda municipal Anderson Bueno, um dos envolvidos na abordagem que acabou com a morte do estudante Caio José Ferreira de Souza Lemes, de 17 anos, disse à polícia que o jovem não era alvo da revista inicial feita pela equipe. Segundo Bueno, Caio passou correndo pelo local onde ocorria uma abordagem, momento em que começou a ser perseguido pela equipe policial. O agente afirmou que acredita que o jovem tenha se assustado ao ver a abordagem acontecendo e, por isso, correu. "No momento em que nós descemos estavam só três pessoas. O Caio não estava ali. O Caio não estava entre os abordados", afirmou o guarda. Caio morreu com um tiro na cabeça no fim de março, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Segundo o Boletim de Ocorrência registrado por parte dos guardas envolvidos na abordagem, o adolescente fazia parte do grupo que estava sendo revistado e teria fugido. Anderson prestou depoimento na segunda-feira (3). A RPC tive acesso ao relato do guarda, que apresenta uma versão diferente da registrada inicialmente pelos outros agentes envolvidos na ação. Conforme o boletim, após uma perseguição, o adolescente tirou do boné uma faca de 25 centímetros. Edilson Pereira da Silva, um dos agentes, disse ter se sentido ameaçado e, para resguardar a própria vida, disparou com arma de fogo. Entretanto, a versão vai de encontro com o relatado por Anderson, que afirmou que a faca foi plantada no local. Leia mais a seguir. Garoto de 17 anos estava no 3º ano do Ensino Médio Arquivo da família Conforme o delegado, Eric Guedes, responsável pelo caso, Anderson Bueno foi ouvido como testemunha. No dia da abordagem, o guarda era o terceiro membro da equipe e cuidava da segurança do grupo. De acordo com o delegado, Bueno não prestou depoimento na Central de Flagrantes e nem participou da confecção do Boletim de Ocorrência. Guedes entendeu que o guarda não cometeu o crime de fraude processual e, portanto, não é mais investigado. Relembre: Polícia investiga morte de adolescente baleado por guarda municipal em Curitiba; 'Minha vida está destruída', diz pai A dinâmica da abordagem segundo o agente Caso Caio Lemes: Meio-Dia Paraná teve acesso ao depoimento de guarda municipal Segundo Anderson, após verem o estudante correndo, ele e outro guarda da equipe, Edmar Junior, correram a pé em direção ao jovem. O terceiro integrante da equipe, Edilson Pereira da Silva, entrou na viatura policial e perseguiu Caio com o veículo, o alcançando mais rapidamente. Conforme o relato de Anderson, a viatura bateu contra uma mureta, o que assustou Caio, que parou de correr, colocou as mãos na cabeça, se ajoelhou e mencionou que iria deitar no chão. Anderson afirma que logo em seguida ouviu um barulho de tiro, se aproximou e viu a lesão na cabeça do estudante. Ele conta ainda que pediu para que vizinhos chamassem o socorro para atender o jovem. Agente afirma que Guarda Municipal não havia sido chamada De acordo com o relato de Anderson Bueno, não houve pedido da população para que a equipe fosse ao local. A versão também é diferente da registrada inicialmente em Boletim de Ocorrência (B.O). Segundo Bueno, o chefe da equipe quis passar pela região porque havia suspeita de alguém com mandado de prisão em aberto circulando pelo bairro. Entretanto, o B.O registrado por parte dos guardas envolvidos na abordagem afirma que o grupo fazia um patrulhamento preventivo quando foram informados por um motorista de que havia pessoas na região suspeitas de tráfico de drogas. De acordo com o boletim, os guardas foram ao local indicado e viram quatro pessoas com as características citadas pelo denunciante, entre elas, Caio. Guarda demonstrou arrependimento Conforme o depoimento do agente Anderson Bueno, o guarda indicado como responsável pelo disparo demonstrou arrependimento logo após a situação. Bueno afirmou que após o tiro, Edilson Pereira da Silva perguntou repetidamente "meu Deus, o que aconteceu?" e que ouviu o colega dizer que "tinha acabado com a própria vida". LEIA MAIS: Testemunha afirma à polícia que ouviu guarda dizer 'putz, disparou' após estudante ser baleado em abordagem Agente alega que faca foi implantada na cena Anderson Bueno afirmou durante o depoimento que o jovem baleado não estava com uma faca, como foi indicado pelo Boletim de Ocorrência. Segundo o agente, após a situação ouviu um barulho de metal caindo no chão e viu a faca próxima ao adolescente. Entretanto, Bueno alega que o objeto havia sido apreendido pela mesma equipe policial em uma abordagem anterior, feita no Parque Municipal Mané Garrincha. "Se você pegar, não vai ter digital do piá na faca, porque ela não estava ali no local", afirmou durante o depoimento. LEIA MAIS: À polícia, guarda municipal relata que estudante baleado em abordagem não tinha faca De acordo com guarda, faca foi colocada na cena após adolescente ser baleado Reprodução Rodrigo Cunha, advogado dos agentes investigados, afirmou que a faca estava sim com o jovem e que a equipe agiu em legítima defesa. "A versão de que a faca foi plantada no local do crime não coaduna com a verdade. Inclusive, esse mesmo guarda municipal, perante a Corregedoria da Guarda Municipal, relatou que não tinha condições de ver a situação. Portanto, o que nos temos é que antes ele era ouvido como investigado, agora ele foi ouvido em caráter de testemunha, está relatando isso, e conseguiu a benesse que a autoridade policial não o indiciaria. Nós mantemos a versão que os guardas municipais agiram naquela ação em total legítima defesa", afirmou. Investigados prestam depoimento Guardas investigados prestaram depoimento Reprodução/RPC Os dois guardas investigados pela morte de Caio também prestaram depoimento na tarde de segunda-feira (3). Edilson Pereira da Silva, guarda indicado como autor do disparo que vitimou o adolescente, é investigado por homicídio culposo – quando não há intenção de matar – e fraude processual. O outro agente, Edmar Junior, é investigado por fraude processual. Eles não falaram com a imprensa e permaneceram em silêncio durante o depoimento. A defesa dos dois afirmou que eles irão se pronunciar quando tiverem acesso a todas as peças, laudos e depoimentos do inquérito. A Prefeitura de Curitiba disse que os guardas envolvidos na situação estão afastados. A Guarda Municipal informou que está colaborando para que o caso seja esclarecido o mais rápido possível. 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